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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A febre do iogurte

(Tala Simpatia - Iogurte Lisboa)
Os troféus por votos constituem um documento único da popularidade do clube. A Taça Simpatia - Iogurte Lisboa é um ex libris do nosso património.

Na velha Luz, antes do clássico com o FC Porto para o 'Nacional' de 1965/1966 deu-se um histórico rendez-vous. Protagonistas uma senhora taça e um senhor 'capitão'.
A senhora taça trazia vestidas caravelas, cruzes de Cristo e esferas armilares. O senhor 'capitão', acostumado que estava a senhoras taças, nunca vira outra igual.
De fina estampa, como Mona Lisa, a senhora Taça foi desde então despertando a codícia entre quem a visitava. Ir a Belém ver os Jerónimos ou à galaria do clube ver a Taça Simpatia - Iogurte Lisboa passou a ser uma experiência uníssona.
Mas para que tal acontecesse foi primeiro necessário que os portugueses desatassem que nem uns danados a comer iogurte, na expectativa de sublimarem os seus apetites clubísticos. A receita era simples: os consumidores do produto votavam no emblema da sua simpatia e habilitavam-se a garantir 'uma joia da ourivesaria portuguesa para consagração do clube mais querido de Portugal'. Foi assim que a Associação de Futebol de Lisboa, obviamente mais vocacionada para os enredos da bola, se viu dedicada a um verdadeiro romance popular, sob a chancela da já extinta Sociedade de Alimentação Estrela Lisbonense.
Por estranho que pareça, a iniciativa, sem paralelo nos dias de hoje, repercutia uma tradição antiga. Entre 1924 e 1972, a conquista de troféus por votos foi uma constante no palmarés benfiquista, testemunhando de forma única a popularidade do clube e constituindo actualmente um património peculiar da nossa memória.
O legado compõe-se de 81 troféus e, para além da indústria láctea, foram inúmeros os seus promotores, como a imprensa, o teatro e a música, entre outros. Acrescente-se que a senhora Taça Simpatia - Iogurte Lisboa não é caso único de glamour, pois todo o conjunto é rico em estética, design e materialidade.
Caído em desuso, talvez não fosse inoportuno reabilitar o costume, hoje brutalmente facilitado com as redes sociais. Mas garantindo que não se trocassem as senhoras taças, de caravelas vestidas, cruzes de Cristo e esferas armilares, pelas rameiras de pechisbeque que, nos últimos anos - muitas vezes sob encomenda de associações e federações desportivas -, têm vestido a máscara de tesouros.
Carecendo gritantemente do que de mais precioso dava o velho iogurte: vigor e longevidade."

Luís Lapão, in Mística

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