"Armando Leitão, professor na Faculdade de Engenharia do Porto e docente de Estatística e Gestão de Manutenção, disse esta semana ao Jornal de Notícias que o intervalo de 72 horas que não foi cumprido por três jogadores do FC Porto entre dois jogos - e que pode resultar na exclusão da Taça da Liga - não foi, afinal, de 72 horas.
«O tempo mede-se, não se conta. Quem fez a lei definiu uma precisão à hora e não ao minuto, pelo que 71 horas e 45 minutos são 72 horas. Setenta e duas horas é o intervalo entre 71 horas e 30 minutos fechado e 72 horas e 30 minutos aberto. Só haveria risco de eliminação se estivesse escrito 72 horas e zero minutos», disse o professor.
Parece-me evidente que Armando Leitão dominará melhor a temática, pelo que não vou questionar isto dos intervalos abertos e fechados. Até porque, sendo eu muito pontual, posso sempre usar esta informação na próxima vez que tiver de ficar à espera de alguém, lembrando que 35 minutos não são 35 minutos, é uma hora. Para mais, é sempre bom quando alguém doutras áreas entra em cena no futebol, renovando conceitos cristalizados. O próprio tempo de jogo pode ser discutido numa base similar. Um golo ao minuto 45 pode, no futuro, ser fora de tempo se se argumentar matematicamente que, nas leis, 45 minutos podem ser uma hora e logo o golo foi marcado quando o jogo, na verdade, já acabara; e ninguém percebera, porque as pessoas, coitadas, julgam que o tempo é dos relógios. E o intervalo dos jogos, serão 15 minutos? Será intervalo aberto ou fechado? E isto se o tempo existir. Einstein, por exemplo, escreveu que «é uma ilusão, uma mera distinção entre passado, presente e futuro» e que «a única razão para o tempo é impedir que tudo aconteça ao mesmo tempo».
Nem tenho estudos para isto. Fico-me pelo Jorge Palma: «O tempo não sabe nada, o tempo não tem razão. O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção. Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós. Meu amor, o tempo somos nós»."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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