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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Ética e esperança (II)

"É difícil expressar a ideia da esperança. Mesmo assim, arriscaria a definição de Jean Gultton: a esperança é a predisposição de espírito que leva a acreditar na realização do que se deseja. Na essência, um valor humano. E uma virtude, no sentido aristotélico.
A esperança não se dilui, porém, na ilusão ou na fantasia. E também não se confunde com o sonho. Ou seja, precisa de esperar. Esperar é um verbo que é muitas vezes desesperante. Ou desconcertante. Que o diga o mundo do desporto...
A esperança também não se dissolve no desejo, embora não o dispense. Podemos desejar, sem esperar. Desejar ser sempre campeão, ganhar o Euromilhões ou não pagar os cada vez mais brutais impostos, não significa que tenhamos essa esperança. O desejo é a matéria-prima da esperança, mas não o seu produto acabado.
A esperança é racional, mas, no limite, a emoção pode ultrapassar a razão. É assim no desporto, onde a emoção até pode ser protagonista. Aí chegaremos à patalogia da esperança que é - usando um plebeismo - a fezada. No futebol, o adepto é um clássico exemplo desta overdose de esperança. Que tanto o conduz, bipolarmente, à euforia de se achar dono da esperança, como à necrose do desespero.
Quantas vezes uma falseadora ideia da esperança é a via directa para o desastre, é o negacionismo da realidade pura e dura, é encobrir o medo com a fantasia e a ignorância com a imaginação.
A esperança é um empréstimo que se pede à felicidade, resumiu magistralmente Joseph Joubert. Uma prova fiduciária que precisa de ser honrada. Mesmo nas nossas paixões clubistas e nas compulsivas chicotadas psicológicas..."

Bagão Félix, in A Bola

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