"Combinava-se que o tempo, a duração do jogo, se media em golos (mudava aos cinco e acabava aos dez), dividíamo-nos em duas equipas, media-se a baliza em passos e fazia-se das mochilas da escola ou dos paralelos da rua os seus postes. Preparado o campo, escolhíamos quem queríamos ser, acreditávamos ser os nossos ídolos, tínhamos a capacidade de nos ‘outrar’, de sermos o outro.
Encarnávamos a categoria senhorial do Humberto, a força e a determinação do Toni, a eficácia do Nené, a frieza do Filipovic, o carisma do Bento ou o talento ímpar do Chalana. E, deste modo, ‘outrando-nos’, elevávamo-nos ao patamar dos nossos ídolos e elevávamo-los à condição de heróis, numa condição situada algures entre os homens e os deuses. Não era por acaso que, na inocência infantil de quem escolhia os nomes com a simplicidade de quem olha para o mundo com olhos limpos, havia nomes escolhidos, e até disputados, em contraste com outros sistematicamente ignorados. Era um critério que ultrapassava o mero reconhecimento do talento, implicava algo de bem mais profundo, mas menos mensurável. Escolhíamos os nomes daqueles com quem nos identificávamos, aqueles nomes que, num processo que não se explica, mas que se sente, tinham conseguido uma relação tão especial com os adeptos que os sentíamos como património colectivo do benfiquismo e não apenas como bons jogadores do Benfica. E, nestas coisas, a miudagem não se engana.
Contava-me, na terça-feira, uma grande benfiquista que vira a Carolina, uma benfiquista dos sete costados e tenros anos, largar uma lágrima grossa e sincera por causa da transferência do David Luiz. Não foi por acaso, foi porque o David Luiz conseguiu, nos tempos actuais, a tal identificação com o benfiquismo. A tal que não se explica, mas que se sente.
Que sirva de consolo à Carolina o facto de o David Luiz ter saído do Benfica, mas ter levado em si o benfiquismo que todos partilhamos."
Encarnávamos a categoria senhorial do Humberto, a força e a determinação do Toni, a eficácia do Nené, a frieza do Filipovic, o carisma do Bento ou o talento ímpar do Chalana. E, deste modo, ‘outrando-nos’, elevávamo-nos ao patamar dos nossos ídolos e elevávamo-los à condição de heróis, numa condição situada algures entre os homens e os deuses. Não era por acaso que, na inocência infantil de quem escolhia os nomes com a simplicidade de quem olha para o mundo com olhos limpos, havia nomes escolhidos, e até disputados, em contraste com outros sistematicamente ignorados. Era um critério que ultrapassava o mero reconhecimento do talento, implicava algo de bem mais profundo, mas menos mensurável. Escolhíamos os nomes daqueles com quem nos identificávamos, aqueles nomes que, num processo que não se explica, mas que se sente, tinham conseguido uma relação tão especial com os adeptos que os sentíamos como património colectivo do benfiquismo e não apenas como bons jogadores do Benfica. E, nestas coisas, a miudagem não se engana.
Contava-me, na terça-feira, uma grande benfiquista que vira a Carolina, uma benfiquista dos sete costados e tenros anos, largar uma lágrima grossa e sincera por causa da transferência do David Luiz. Não foi por acaso, foi porque o David Luiz conseguiu, nos tempos actuais, a tal identificação com o benfiquismo. A tal que não se explica, mas que se sente.
Que sirva de consolo à Carolina o facto de o David Luiz ter saído do Benfica, mas ter levado em si o benfiquismo que todos partilhamos."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!