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domingo, 30 de novembro de 2025

Será que recuperar muito rápido é sempre o melhor?


"No futebol profissional, a pressão para que os atletas regressem, o mais cedo possível, aos relvados é enorme — quer pela necessidade de resultados imediatos, quer pela gestão das transferências de jogadores ou ainda pelos custos associados à ausência. No entanto, várias evidências científicas demonstram que um retorno demasiado acelerado pode ter um impacto mais negativo do que um provável benefício do regresso mais precoce do atleta.
Os relatórios da UEFA sobre lesões em clubes de elite na Europa concluem, em 20 anos de recolha de dados, que 20% das lesões reportadas são recidivas e que estas ocorrem nos primeiros dois meses após a retoma desportiva, sendo que o tempo de paragem após a recaída tende a ser significativamente superior. Por exemplo, as lesões musculares são das que mais contribuem para esta problemática, isto porque são aquelas onde mais facilmente se cometem erros na tomada de decisão nas etapas da progressão da recuperação e no tempo de retoma desportiva.
Os motivos destes erros estão nas caraterísticas particulares da evolução biológica e funcional da lesão muscular, onde o atleta recupera a funcionalidade mais rápido do que a evolução da cicatrização do tecido, o que poderá fazer com que se tome uma decisão de retorno demasiado precoce tendo em conta a incapacidade que o tecido imaturo tem para tolerar esforços intensos.
Num clube, quando a recidiva ocorre num atleta preponderante na equipa, os efeitos negativos multiplicam-se: resultados desportivos da equipa e desvalorização de mercado do atleta. Relatórios recentes apontam que os clubes europeus dos cinco principais campeonatos perderam mais de €732 milhões numa temporada devido a lesões. Além disso, uma recidiva pode significar que o atleta entra num ciclo difícil de menor tempo de jogo, maior risco de contrair outras lesões e maior desgaste psicológico. Do ponto de vista estratégico do clube, esta economia de voltar antes pode gerar mais despesa ou prejuízo a médio/longo prazo.
No futebol moderno, a diferença entre os clubes de topo e os restantes não se mede apenas em golos ou títulos, mas também na forma como gerem a saúde dos seus atletas. Estudos da UEFA e da FIFA demonstram que as equipas com melhores recursos (humanos e tecnológicos) apresentam uma menor taxa de recidiva de lesões, ou seja, menos casos de jogadores que voltam a lesionar-se na mesma zona após o regresso à competição.
A chave está na reabilitação estruturada e na comunicação constante entre todos os departamentos: médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos e treinadores. Nos grandes clubes, o processo de retoma desportiva é, meticulosamente, planeado. Nenhum jogador retoma ao relvado sem cumprir etapas que incluem avaliações de força, testes funcionais e monitorização de carga de treino.
Além disso, a integração de dados provenientes de sistemas GPS, testes neuromusculares e análises de fadiga, permite personalizar o treino e controlar o risco de sobrecarga. Este cuidado reduz não só o número de recidivas, mas também o tempo total de inatividade ao longo da época.
A redução do risco de lesões tornou-se um verdadeiro indicador de excelência organizacional. Num calendário, cada vez mais exigente, quem investe em ciência e competência ganha uma vantagem invisível, mas decisiva, ao manter os seus atletas dentro de campo e fora da marquesa.
Concluindo, recuperar os atletas, o mais cedo e melhor possível, é a grande função do departamento médico de um clube, e mesmo assumindo que o risco estará sempre presente, é fundamental fazer a sua gestão. O panorama científico mostra que o risco de recidiva aumenta, significativamente, com retorno prematuro, e esse risco tem repercussões que ultrapassam o atleta e atingem a saúde financeira e desportiva do clube.
Por isso, fica a questão: Qual é o preço a pagar por arriscar regressar cedo demais? Será que vale a pena?"

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