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sábado, 4 de outubro de 2025

Uma aventura no Irão


"O que têm comum Jane Goodall, Tommie Smith e John Carlos, Mariana Mortágua e Ana Seabra? Tanto e tão pouco

Ontem, o Mundo português acordou com a notícia de que quatro portugueses, entre os quais uma deputada, Mariana Mortágua, foram detidos quando o barco da flotilha humanitária que se dirigia a Gaza foi intercetado pelas forças de Israel. Creio que passaram 32 dias desde o início da missão e muito se tem discutido sobre a sua eficácia entre os muitos movimentos que tentam acabar com o genocídio que se vive no Estado Palestiniano, provavelmente o mais urgente, ou o mais presente, que todos os dias nos entra pelos olhos com imagens chocantes.
Mas não é, infelizmente, o único caso.
Como se o movimento de rotação da Terra, em torno do seu eixo imaginário fosse responsável por virar o Mundo de pernas para o ar e enquanto uns caem, outros se levantam nessa volta.
Ana Seabra é a nova selecionadora nacional de andebol do Irão, um cargo de enorme responsabilidade desportiva, mas não só.
Há muito que o desporto e a politica andam de mãos dadas, sobretudo, quando muitos outros interesses saem dessa relação, como braços de um polvo que, infelizmente, ao contrário do que vive nos oceanos não tem três corações.
São históricas e ricas as dezenas de manifestações que o desporto proporcionou e protagonizou a propósito de causas. O punho cerrado e de luvas negras erguido por Tommie Smith e John Carlos, enquanto se ouvia o hino americano, no pódio dos 200 m, nos Jogos Olímpicos do México, em 1968, é provavelmente o mais famoso. Ambos estavam sem sapatos, apenas com meias pretas — simbolizando a pobreza dos negros.
Demorou muito tempo até que este gesto conseguisse um efeito prático, e há ainda quem defenda que essa mudança ainda não está completa.
Em Portugal, há uma mulher que vai para o Irão treinar a Seleção feminina. Ana Seabra contou que sente que o desporto «ajuda à emancipação feminina» das iranianas que, curiosamente, entre 1967 e 1975, ganharam o direito de votar, divórcio, concorrer a cargos políticos, herdar propriedade, etc.
Hoje essa realidade é diferente, as instituições internacionais dizem que é atroz, castradora. Não nos toca no coração e, sobretudo, não nos indigna porque não nos entra pelos olhos todos os dias.
Jane Goodall, para muitos a mais brilhante e inspiradora ativista dos nossos tempos, morreu ontem aos 91 anos. A sua luta pelos chimpanzés deu-lhe fama, nem sempre abonatória no início da jornada, mas depois essa crença na esperança, no planeta, nos jovens, no futuro desta mulher primatóloga, etóloga, naturalista e activista tornou-a um símbolo de causas.
A propósito do seu desaparecimento, a jornalista Mafalda Anjos recordou uma frase sua que nos devia obrigar a refletir. «Podemos escolher ajudar a fazer do mundo um lugar melhor ou, simplesmente, não querer saber»."

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