Últimas indefectivações

domingo, 26 de outubro de 2025

Será mesmo a chama imensa?…


"Passei em Portugal muito pouco tempo, no período de campanha eleitoral para as eleições no Benfica. Li algumas ideias de cada um dos candidatos, percebi as diversas fações em equação, e compreendi, claro, a grande importância e impacto que o dia de hoje tem para o futuro próximo (e mesmo para o de médio e longo prazo) do clube português com maior impacto social aquém e além-fronteiras.
E só isso já é suficiente para ter decidido escrever hoje sobre o Sport Lisboa e Benfica, enquanto jornalista que nunca teve nada a ver com o clube, mas que se habituou, ao longo de quase 40 anos de carreira, a analisar e respeitar uma inegável força motriz do desporto em Portugal, convivendo, por força de tarefas profissionais, com nomes como Fernando Martins, João Santos ou Jorge de Brito como presidentes do emblema da Luz.
Primeiro sinal de óbvia vitalidade: seis candidatos, com programas estruturados e ideias alicerçadas sobre o seu clube, é uma clara demonstração de democracia interna e, sobretudo, das diversas nuances e entendimentos que o Sport Lisboa e Benfica desperta. Dir-se-á, do ponto de vista da política desportiva, que o cargo de presidente dos encarnados é, hoje, tão ou quase tão apetecível como o de presidente da Federação Portuguesa de Futebol, por tudo o que encerra, em termos de projeção e influência direta e indireta na vida e na profissão de muita gente.
Tive ocasião de escrever, nesta mesma página, há alguns meses, que o caminho de Rui Costa como líder benfiquista talvez tivesse chegado ao fim. Por coerência, sustento igualmente que Luís Filipe Vieira constitui uma história fechada, e igualmente não se deveria candidatar a sufrágio. Porém, as dinâmicas próprias de uma instituição como o Benfica produzem e estimulam projetos, assim como indicam timings. E se ambos entenderam ser a altura de voltarem à avaliação direta dos seus associados, apenas me compete registar essa opção e aguardar pelo veredito, para perceber, afinal, até que ponto o antigo presidente e o atual número um ainda possuem e estimulam bases societárias de sustentação para os respetivos projetos.
O Benfica é um clube desportivo e, na lógica organizativa e de implantação dos emblemas latinos, um coração essencialmente pulsante por via do futebol. E dos seus resultados. Porém, que nenhum dos candidatos nas urnas encarnadas de hoje resuma a esse detalhe a sua intenção de liderar uma estrutura profissional que, evidentemente, vai muito para além da bola que entra ou do falhanço do avançado à boca da baliza.
A gestão rigorosa, assente nos mais modernos e transparentes padrões de governança, é um pilar indestrutível para quem quiser abraçar e abarcar as responsabilidades de liderança do grande clube da Luz. Elementos como a gestão combinada do futebol profissional e do futebol de formação, a padronização de figurinos de jogo a partir dos escalões etários mais baixos (sempre com o incontornável respeito pela prioridade da formação de cidadãos, muito mais do que de desportistas, a dado passo do percurso evolutivo), são áreas tão sensíveis quanto significativas, pois delas dependerá sempre o princípio inabalável dos principais clubes portugueses: serem agentes formadores e vendedores, numa fase posterior, como garante a sustentabilidade orçamental.
Querer dar passos maiores do que as pernas (mesmo que elas sejam das de maior alcance, no panorama nacional…) é o primeiro momento de desnorte para a gestão combinada e organizada de que falámos.
Um clube como o SLB vive, também, de estruturas. E muito se terá cogitado, nos últimos tempos — com alguma saudade para os mais revivalistas, convenhamos —, na comparação entre o atual Estádio da Luz e o antigo recinto, inaugurado a 1 de dezembro de 1954, e que marcou gerações de futebolistas, técnicos, dirigentes adeptos. Nesse particular, creio haver algumas ideias interessantes, disseminadas pelos diversos candidatos à presidência, para um reforço dos laços afetivos do atual recinto benfiquista e para a sua adequação às necessidades crescentes de acomodação de adeptos, bem como à transversalidade da experiência procurada pelos que demandam recintos desportivos e que ultrapassa os limites restritos do jogo e da competição em si.
Mas há, fatalmente, um aspeto que me parece determinante no ato eleitoral de hoje: a transparência. Seja na elencagem das prioridades do próximo mandato dos corpos gerentes encarnados, seja na capacidade de se apresentarem despidos de aproveitamentos que não resultem, estritamente, em benefícios para o emblema que dirigem, seja no modo (necessariamente moderno e escrutinável em permanência) como utilizarão os instrumentos de gestão ao seu dispor e a grandeza da instituição à sua mercê.
Uma transparência que sustenta o modelo democrático que prevalece nas eleições dos clubes portugueses, mas que, curiosamente, tem no Benfica um calcanhar de Aquiles: a não implementação do sistema 'um Homem, um voto', que traduziria de modo mais imediato, concreto e fiel as aspirações de todos e de cada um dos associados do universo benfiquista.
Salvaguardando a legitimidade da opção pela antiguidade como elemento diferenciador, parece-me que a plena democracia interna sairia reforçada com a adoção de um mais linear sistema de decisão.
Seis candidatos, seis projetos que se entrelaçam na paixão por um emblema, e que se distinguem nos protagonistas, nos métodos e nos meios. Palpita-me que mais logo, apurados os resultados, o presidente eleito dirá que… «ganha o Benfica».

Cartão branco
Começa (e ainda bem!) a ser recorrente a referência ao fantástico trabalho de Francisco Neto no comando da Seleção portuguesa feminina de futebol. A vitória (2-1) sobre os Estados Unidos, fora de portas, revela a competência e a estratégia. A competência de um trabalho de longo prazo, pensado e estruturado para respeitar o processo de evolução individual e coletivo das jogadoras portuguesas, e a estratégia de descrição nos métodos, como que aproveitando o tempo e o espaço para, de modo sustentado, fazer crescer a equipa e, com ela, os sonhos legítimos de uma geração de futebolistas. Neto é diferenciado. A sua equipa técnica é inspiradora. E a seleção feminina é distintiva.

Cartão branco
Semana muito dura para os que cá ficam, com a partida de Francisco Pinto Balsemão e de Álvaro Laborinho Lúcio. Duas personalidades ímpares, pela dedicação, pela determinação para com a liberdade e a justiça. Dois pilares que deixam uma inquebrantável memória, e que passam um legado que nos compete respeitar, honrar e prosseguir. Semana difícil, mas que nos une em torno dos valores essenciais do jornalismo e da justiça: equilíbrio e liberdade."

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