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terça-feira, 7 de outubro de 2025

A tática é quem mais ordena no universo onde ‘Mou’ é rei...


"Num jogo fechado e pouco espetacular, onde as equipas se equivaleram (embora o FC Porto tenha tido duas/três oportunidades de golo, contra uma/duas do Benfica) e procurarem nunca serem apanhadas ‘despenteadas’, os forasteiros terão saído do Dragão mais satisfeitos do que os donos da casa. O que sobrou em organização ao Benfica, faltou em risco ao FC Porto

No fim de um dia em que só aparentemente ficou tudo na mesma (o Benfica mostrou estar vivo, e o SC Braga fez prova de vida), terão sido os da Luz quem mais capitalizou, já que passaram por uma jornada, atendendo à conjuntura, muito ingrata, sem danos de maior.
Os ‘clássicos’, assim como as finais, são para ganhar e não para jogar. No embate entre um treinador italiano e outro muito italianizado, imperou o pragmatismo, e nem o FC Porto se mostrou disposto a correr demasiados riscos, nem o Benfica abdicou de uma disciplina espartana, que tapou quase sempre de forma satisfatória os caminhos para a baliza de Anatolyi Trubin. Poder-se-á dizer, e com razão, que o FC Porto teve mais bola (57/43), mas poucas foram as vezes em que ultrapassou as linhas encarnadas e criou situações de superioridade numérica, mantendo a posse, tal como o Benfica, aliás, em zonas recuadas, e nunca tendo complexos em jogar com o seu guarda-redes. Nesse particular o ‘clássico’ assemelhou-se a um jogo de espelhos...
É verdade que o Benfica teve pouca presença no último terço do campo. Mas isso também aconteceu porque o FC Porto, sempre que baixou o bloco, fechou-se num 5x4x1 conservador, incluindo Varela como mais um central. Vamos então às táticas e às dinâmicas, porque, nesse capítulo, o jogo, apesar de pouco espetacular, foi muito rico.

RISCO ZERO
Francesco Farioli mandou a jogo o onze que se esperava, que partia de um 4x3x3 que, por cautelas defensivas, deixava demasiadas vezes Samu mergulhado na solidão, obrigado a recuar se queria ter bola, e fazia com que Froholdt e Gabri Veiga estivessem preocupados em não deixar que o Benfica conseguisse jogar entre linhas, antes de se preocuparem em integrarem-se na manobra ofensiva. A variante mais usada foi a do recuo de Varela, passando a 5x4x1, o que garantia eficácia defensiva, mas dava tempo e espaço para o Benfica respirar com bola. Apesar de alguns assomos de pressão alta, o FC Porto marcou sobretudo à zona, e foi menos agressivo que em outras circunstâncias, essencialmente para não se desposicionar.
Já José Mourinho fez da organização o seu maior trunfo: partindo para o jogo com uma base de 4x4x2, com Sudakov ao lado de Pavlidis e Aursnes à frente de Dahl (algumas vezes o ucraniano e o noruegês permutaram posições), deixando as mudanças de ritmo para o flanco direito, onde, até ‘estoirar’, Lukebákio manteve em sentido o lado esquerdo dos dragões, evoluiu, por vezes, para um 4x4x1x1, recuando Sudakov, para um 4x3x3, subindo Aursnes e, raríssimas vezes, para um 5x4x1, quando Ríos se colocava entre Dedic e António Silva.
Traçado o desenho, e confirmando-se que as dinâmicas, antes de serem de tração dianteira eram de tração traseira, cedo se formaram jogos de pares, que tornaram as ações previsíveis, apostando, então, qualquer dos treinadores no erro do adversário. Repare-se que o primeiro remate enquadrado da partida surgiu num livre direto batido por Sudakov (33m) e o segundo num remate de Gabri Veiga, que Trubin parou com o joelho (42). Pelo meio (34m) Pepê, em boa posição, rematou por cima do travessão.

TUDO NA MESMA
Os parâmetros da primeira parte acima descritos mantiveram-se em quase todo o segundo tempo. Sendo verdade que o FC Porto entrou mais pressionante, o que lhe valeu ganhar, de seguida, dois pontapés de canto, os ímpetos azuis-e-brancos refrearam-se quando (48m) Bednarek viu um cartão amarelo para travar um ataque rápido conduzido por Lukébakio. Nesta fase, pelo sim pelo não, ao ver que Dedic, Ríos e Dahl estavam com dificuldade em sair a jogar de trás, Mourinho deu ordens a Trubin para bater longo os pontapés de baliza e tudo voltou a acalmar.

FINALMENTE AGITAÇÃO
As primeiras mudanças de Farioli ocorreram aos 63 minutos, mas alterando alguma coisa na dinâmica, nada mudou na tática, já que William Gomes foi para a posição de Pepê e Pablo Rosário para a de Gabri Veiga. E se o técnico italiano tinha algumas razões para ‘desconfiar’ do Benfica, preferindo dar-lhe pouco espaço, mais desconfiado terá ficado quando, aos 64 minutos, na sequência de uma insistência atacante dos encarnados, Kiwior desviou a bola para a trave da baliza de Diogo Costa. Só a partir dos 75 minutos as coisas começaram a ficar mais interessantes, com a entrada de Deniz Gul para o lugar de Samu (quase sempre presa fácil, ao contrário do turco, mais móvel), respondendo Mourinho com o reforço defensivo do meio-campo, ao trocar Lukebakio por Leandro Barreiro.
O FC Porto aceitou o convite final do Benfica para terminar o jogo a tentar furar a muralha encarnada, e de uma iniciativa individual perigosa de William Gomes, deve ter-se feito luz em Farioli, que aos 90 minutos mandou Rodrigo Mora a jogo. Com dois agitadores portista em campo, Mourinho meteu mais um central, Tomás Araújo, mas mesmo assim, foi Mora a ter nos pés a oportunidade de fazer com que os três pontos ficassem em casa, quando, aos 90+2, acertou na trave de Trubin.
Foi mesmo o canto do cisne de um jogo que terminou com o resultado mais previsível, atendendo aos cuidados em presença, mas que terá agradado mais a José Mourinho que a Francesco Farioli."

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