Últimas indefectivações

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Nos gabinetes de imprensa também se jogam títulos


"Enquanto os nomes mais falados do futebol fazem movimentar a agenda das janelas de transferências, há um outro jogo, fora dos relvados, que exige estratégia, sangue-frio e resistência emocional: o mercado de transferências conforme é vivido nas estruturas de comunicação dos clubes. Uma maratona silenciosa que pode influenciar uma época desportiva tanto quanto o sucesso de qualquer contratação. Este mercado pauta-se pela gestão dos egos, do ruído mediático, da contrainformação e, principalmente, da desinformação. Aqui a pressão não é negociável: ela é constante. Por vezes, até ao último segundo do dia de uma janela de transferências. E quantas vezes ainda mais além desse momento. Nestas fases do mercado, os profissionais de comunicação veem o seu papel desdobrado num jogo com várias frentes de ataque, mas sempre com o foco em resolver um problema central: a perceção pública. Esta perceção é gerida sem certezas ou garantias de que será eficiente, mas com a maior urgência que o seja. A perceção, uma linha ténue entre a quase verdade e a quase mentira, é a maior e a pior aliada dos clubes - uma arma frágil e volátil com capacidade de minar instituições, se não for bem usada e encarada.
O fenómeno social, totalmente contagiante e sem fronteiras, que é o futebol, concede a esta fase muito mais do que a gestão de um clube/empresa. É obrigatório garantir a reputação dos jogadores, que veem a sua esfera profissional (e até familiar) ser constantemente melindrada por especulações, bem como assegurar a blindagem do balneário que, entre rumores mal explicados e desinformação, pode correr o risco de entender o coletivo como cada vez menos uma certeza. Acima de tudo, é essencial gerir as expetativas dos adeptos que, nos tempos que correm, têm o poder de incrementar a desinformação nas plataformas sociais e, assim, contribuir fortemente para o desequilíbrio entre todos os fatores.
O caso mais flagrante deste mercado é o de Viktor Gyökeres, com rumores a romper diariamente, e com força, nos media. O gabinete de imprensa, além de lidar com o ruído contínuo, sem confirmações oficiais, tem o papel acrescido de proteger o jogador, a equipa técnica e a reputação institucional.
A isto soma-se mais um eixo de tensão: a rivalidade, que se sente além dos 90 minutos e fora do período competitivo, com os clubes rivais tantas vezes a gerarem narrativas próprias. As estruturas de comunicação são, muitas vezes, obrigadas a definir posicionamentos num campo sem regras claras, onde a verdade convive com o oportunismo.
Os gabinetes de imprensa são a “última linha de defesa” num jogo onde, paradoxalmente, são protagonistas invisíveis. Enquanto todos olham para o mercado de transferências como um espetáculo de milhões, há quem o viva como uma luta de contenção emocional, tática e reputacional e, quase sempre, sem direito a substituições ou a pausas técnicas.
Não existe um manual que prepare um gabinete de imprensa para esta fase. Não há estratégias milagrosas, nem transversais. Tentar travar os rumores pode ser tão contraproducente como ignorá-los. A única certeza é que os profissionais que lidam com este turbilhão fazem-no com uma pressão pouco reconhecida, mas essencial para a manutenção de toda uma estrutura."

Beatriz Monterroso, in Record

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!