Últimas indefectivações

segunda-feira, 14 de julho de 2025

VAR no Jamor: um silêncio que destrói


"Os clubes gritam demais, os árbitros calam-se em demasia. Todos pensam só nos seus interesses e quem sai prejudicado é o futebol. Direitos de TV e videoarbitragem? Está tudo ligado

O acórdão que sustentou os cinco jogos de castigo a Matheus Reis deveria ser emoldurado: tudo o que não deve acontecer numa sala de videoárbitros aconteceu. O Benfica foi o principal prejudicado, mas também todos os adeptos de bom senso (e mesmo os da equipa do infrator, depois de assente a poeira do fanatismo), a quem custa aceitar que uma ação com esta violência passe em claro.
Mas façamos o exercício: uma situação que inicialmente parece dúbia, depois deixa de o ser, mas entretanto o jogo recomeça e o protocolo manda seguir se não for detetado o erro a tempo. Isto não é qualquer tentativa de justificar a omissão da equipa de videoarbitragem liderada por Tiago Martins, mas serve para contextualizar um conjunto de outros erros (e até mais graves) que ocorrem com o VAR noutras ligas.
A diferença está justamente no que se seguiu: em Portugal continua a ser um tabu a assunção do erro que não dos jogadores e treinadores. Na tentativa de proteger os árbitros, desprotege-se o futebol. Os anos passam e a opacidade mantém-se. São facadas na credibilidade.
É esta falta de transparência que cria o chão para os discursos mais populistas. Hoje é o Benfica que se queixa, mas podemos andar com a cassete para trás e muda a apenas a cor do texto. Todos eles com as suas razões, mas fundamentalmente com as suas paixões.
Agora imaginemos que pouco depois do erro do Jamor tivesse havido um pedido de desculpas público, como ocorreu em Inglaterra na época passada ao Arsenal e ao Brighton. Não devolveria a verdade do jogo, mas trazia para a mesa uma transparência de que o futebol português continua a precisar como de pão para a boca. Algum dia isso terá de acontecer, até para fazer escola e responsabilizar ainda mais os intervenientes.
Mas também não sejamos ingénuos. Essa possibilidade é uma utopia porque hoje ainda vivemos num grande sectarismo, o mesmo que tem marcado décadas em Portugal: os clubes pensam no que é melhor para si, os árbitros pensam no que é melhor para si, as associações de classe seguem o melhor que é para si.
É este caldo cultural que impede, por exemplo, em 2025 haver uma Direção da Liga porque os clubes não se entendem ou que o Benfica se afaste da negociação da centralização dos direitos televisivos (mal no timing, mas com razão nos argumentos apresentados). Uns gritam demais, outros calam-se em demasia. Não há ponto de equilíbrio."

Sem comentários:

Enviar um comentário

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!