"De Jorge Braz a Ricardinho. De Mário Narciso a Madjer.
Vivemos numa era de vedetas, de estrelas projetadas pela capacidade de gerar seguidores nas redes sociais, reações em cadeia e marketing associado. Muitas vezes a prática corrente do imediatismo, da voracidade, da rapidez de propagação noticiosa, dos números, dos recordes, das rivalidades, afastam-nos da perceção de outras realidades, de outras estrelas, de outros valores tanto ou mais representativos da capacidade de geração e aproveitamento de talentos de um país, uma região, uma modalidade, uma paixão.
E é aqui, nesta outra dimensão estelar, que Portugal se habituou ao sucesso, na exata medida de que este (o sucesso) se revela em caminhos percorridos a pulso, degrau a degrau, com foco, disciplina, convicção, saber, esforço, dedicação. Deixando de parte o futebol jogado por onze, olhemos para o futsal e para o futebol de praia como elementos essenciais de ligação com o projeto global encetado, há quase década e meia, pela Federação Portuguesa de Futebol, não apenas no aproveitamento do talento, mas também na concessão de condições estruturais e físicas para que o sucesso pudesse ser paulatinamente alcançado.
Olhemos para nomes como Jorge Braz, o melhor treinador do Mundo de futsal, campeão emérito, muito mais do que pelos dois Europeus e um Mundial conquistados de quinas ao peito, pela técnica e humana que foi musculando ao longo da vida. Um amarantino do planeta, expoente máximo de uma modalidade que, também ela, foi granjeando — à medida que as condições foram sendo concedidas e conseguidas — cada vez mais suporte mediático e respaldo de adeptos entusiastas e entusiasmados.
Braz corporiza o que de melhor tem o desporto para oferecer. Como Ricardinho, o mago de pés dourados que fez sonhar Portugal numa era de conquistas em que assumiu, tantas e tantas vezes, a responsabilidade de carregar e projetar a verdadeira dimensão universal do futsal pelo mundo fora. Outro dos eleitos que hoje sublinho, com uma reverência idêntica pela dimensão dos feitos, e superior pelas dificuldades superadas, às dos astros maiores do futebol, cuja notoriedade algumas vezes ultrapassa a quota de mérito razoável.
E como João Victor Saraiva. Ele mesmo, o senhor mais de mil golos no futebol de praia, feito alcançado em setembro de 2016. Madjer não é só nome de argelino dos sonhos maiores de Viena. É nome do expoente português nas areias do mundo, herói à beira-mar de um país que também se deve orgulhar do trabalho meticuloso, seguro e tantas vezes discreto na ação, promovido na sua Seleção Nacional de futebol de praia.
Madjer continua a estimular e a ser referência maior, como coordenador da Seleção Nacional que agora, na longínqua Victoria, a capital das Seychelles, procura acrescentar terceira estrela FIFA aos sucessos de 2015 (em Portugal) e de 2019 (no Paraguai). E dá o braço a um outro Braz, um outro treinador de eleição que, embora a modéstia lhe assente como essencial virtude, é obreiro de gerações consecutivas de empenho e determinação para levar o nome do país aos mais cotados do beach soccer mundial.
Mário Narciso (de apelido, que de narcísico nada tem), é o pivô de uma ideia de conquista, de perseverança e de renovação sucessiva de gerações e de ambições. Aos 71 anos, elas (as ambições), não falham e não lhe faltam, esperando poder levar para Portugal mais um título mundial. Mas a dimensão deste homem é muito mais abrangente e transversal do que a competição da ilha de Mahé. É algo que, nos últimos 12 anos, se agregou à imagem do desenvolvimento sustentado e harmonioso da capacidade da Seleção portuguesa de futebol de praia, ao longo de jornadas de sacrifício e crença, de crescimento e talento.
E aqui chegamos à espiral única, vértice e vórtice destes quatro homens, destas quatro estrelas de passaporte luso: o talento.
O talento como fator diferenciador e unificador. Diferenciador na medida da capacidade de superação, conquista e disrupção. Unificador na magia una e indissociável do desporto, pensado, trabalhado, programado, planeado, e depois concretizado nos resultados e na comunhão com o adepto.
Ao contrário do que alguns podem fazer crer, o talento e a capacidade de o despistar e trabalhar, não começou agora, nem vai acabar tão cedo.
O exemplo de Jorge Braz, Ricardinho, Madjer e Mário Narciso reside nisso mesmo: na capacidade de perceber que, sendo peças da História das suas modalidades, as acompanham na evolução e dão corpo aos sonhos de gerações. Este patamar genial não está ao alcance de todos, não se projeta nas redes, não se mede pelo número de seguidores, pelas selfies ou pelos egos.
Ao contrário, escreve-se todos os dias, em todos os momentos em que lembramos um golo de Ricardinho, uma bicicleta de Madjer, ou olhamos para a humildade sapiente de Braz e de Narciso, apenas campeões do Mundo nas quadras, e sempre de e a olhar para o futuro, sabendo que nesta dimensão da vida, e apesar da História gravada a ouro, é amanhã que podemos ter novos campeões, e é sempre que devemos motivar, estimular, abraçar o talento, e dele (e com ele) voltar a escrever História e a encantar gerações.
Por tudo e por tanto.
Obrigado, campeões!"

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