"A propósito do adeus d’A BOLA à Travessa da Queimada, e a 27 anos da minha história
Domingo passado fechei a porta do número 23 da Travessa da Queimada, no Bairro Alto, em Lisboa, provavelmente pela última vez. No dia seguinte, o jornal A BOLA foi feito em São Domingos de Benfica, 78 anos depois de ter chegado ao que era então o bairro dos jornais e onde era o último resistente há alguns anos. A BOLA TV ainda ficará no Bairro Alto mais algumas semanas, e talvez lá apareça para comentar a atualidade, mas o jornal de domingo foi o último para o qual escrevi no lugar de sempre.
A primeira vez que me lembro de ir ao Bairro Alto foi numa visita de estudo a um jornal, A Capital, nos anos 80. Se calhar foi aí que ganhei o bichinho. Entrei no 23 da Travessa da Queimada, pela primeira vez, a 4 de julho de 1997. Tinha 20 anos, e queria ver a bola e o mundo e escrever sobre eles. Hoje tenho 47. Passei mais de metade da minha vida a subir e descer aquelas escadas, a entrar e sair de salas dum palácio que, construído no século XVII, nunca pensou (nem tinha particular jeito para isso...) ser uma redação.
Fiz amigos, alguns para a vida, alguns que perdi no caminho, entre aquelas quatro paredes e os bares e restaurantes à volta, do Clandestino, onde eu o Nuno gostávamos de passar ao fim do dia (da noite...) de trabalho, no século passado, ao Caçador de Oliveira, onde jantei quase todas as noites durante mais de 15 anos e onde passei a ser parte da família — os dois já de portas fechadas.
A do 23, d’A BOLA, também se fechou para o jornal, e fá-lo-á de vez daqui a umas semanas. Algo novo nascerá por lá daqui a uns anos, para criar novas memórias para outros deslumbrados de 20 anos de idade. Por mim, achei que iria custar-me mais sair da casa de sempre, mas por muito que os sítios ajudem a construir personalidades, o que as faz realmente são as pessoas."
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