"Roger Schmidt não podia ter entrado sozinho na sala de Imprensa após o jogo com o Farense, mesmo protegido por uma declaração única à televisão do clube. Rui Costa deveria ter estado ao seu lado, falado, talvez até primeiro, do que o seu treinador, e exposto nesse momento a posição do clube sobre uma franja de adeptos ter decidido atirar objetos na direção do alemão por não concordar com as suas substituições. Algo nunca visto.
Schmidt pareceu tão isolado quanto Rui Vitória, Bruno Lage ou Jorge Jesus em momentos semelhantes da respetiva passagem pela Luz. Por isso, quando Rui Costa reagiu, já fê-lo tarde. Tentou ser assertivo, porém, por três ou quatro vezes, forçou-se a si próprio a dar palmadinhas nas costas de quem criticou desde as bancadas, preocupado em não hostilizar ninguém, em vez do murro na mesa que deveria ter dado logo na sexta-feira.
Ao contrário de muita gente, não acho que o adepto possa fazer tudo o que quer gaste ou não o que tem e não tem no apoio à equipa, nem que não possa ser alvo de críticas por um agente do futebol, seja um jogador ou um treinador, ou até responsabilizado. Tem tanto direito à crítica como a recebê-las. E, pessoalmente, se olharmos palavra a palavra para as declarações do alemão, não é difícil entendê-lo.
O resto, isto é, se Schmidt compra ou não uma guerra ainda mais sangrenta que a atual já dependerá da inteligência dos destinatários. Serão estes capazes de abandonar este processo autofágico que prejudica a equipa num momento em que está na luta por vários objetivos – o título e, consequente, o acesso a muitos milhões, fundamentais para o clube a curto prazo; e as taças – ou retirar-lhe-ão por completo o apoio, abrindo caminho a nova cisão, solução de recurso para o banco e muito provavelmente final de época para queimar, hipotecando também as seguintes?
Se, na verdade, os adeptos (todos, sem exceção) precisam muito mais do que disso, nomeadamente de cultura desportiva, pelo menos neste e em vários casos que possam aparecer aqui e noutros emblemas falta inteligência emocional às bancadas do futebol português.
Há várias coisas em que não concordo com Schmidt antes mesmo de chegar às substituições. Uma delas desde logo é esta fé cega num Rafa que define como jogador de terceiro escalão, e que, paradoxalmente, talvez seja das poucas decisões do germânico que os adeptos aprovam. No entanto, já o disse e mantenho: não me parece que, embora abaixo de níveis do passado, o Benfica esteja a jogar tão mal que justifique toda esta crítica. Uma crítica que, sublinhe-se, está longe de apresentar uma solução evidente para os males, que existem, nas dinâmicas da equipa.
O calendário é exigente e Schmidt até pode não terminar no banco do Benfica. Resta saber até que ponto os próprios adeptos serão ou não também em parte responsáveis pelo seu fracasso. Conseguir sair da equação é o melhor que podem fazer agora pelo próprio clube.
A Liga que se nivela por baixo
O Sporting perdeu em Guimarães, mas na verdade foi o Vitória quem venceu o grande jogo. Enquanto clube que carrega tanta emoção, não é nada estranho ver um técnico tão emocional como Álvaro Pacheco – que acrescenta ainda racionalidade tática e ética de trabalho – a ter um impacto positivo. Se diante do FC Porto o resultado já tinha sido injusto, nada melhor do que receber e vencer o líder para provar a força dessa ligação.
Os leões somaram a segunda derrota e é difícil também aí não ver algum sinal de fragilidade, sobretudo depois de o Benfica ter empatado em casa. Obviamente, o patamar para onde os minhotos levaram o encontro tornaria a vida difícil a qualquer rival, porém o ponto de partida obrigava desde logo a um extra à equipa de Amorim. Algo a que o próprio treinador fez questão de apelar antes da partida. Não só o Sporting não o conseguiu, mesmo com uma entrada mais feliz na partida, como Adán parece querer dar razões para que o técnico repense a questão do guarda-redes.
Os sinais extremamente positivos do início da época equilibram-se agora com as dúvidas sobre o espanhol, em quebra natural face à idade, e as dificuldades também esperadas de Gyokeres diante de blocos mais baixos. Com tanta influência, anular o sueco é garantia de um bloqueio muito mais eficaz aos verde e brancos.
O FC Porto manteve-se à tona durante os primeiros meses da temporada. Não jogou bonito ou bem. Perdeu com o Benfica duas vezes e com o Estoril outras tantas, deixando fugir a Supertaça e ficando de fora da Taça da Liga. No entanto, já está igual ao Sporting antes do clássico. Mérito evidente de Sérgio Conceição e da sua capacidade de reinvenção num plantel cada vez mais fragilizado, sem que, no entanto, consiga esconder alguns sinais preocupantes mesmo quando a equipa ganha.
Alvalade será teste muito interessante para os dois candidatos, num campeonato em que as alterações no comando e as recuperações na tabela, com este primeiro lugar ex aequo de uma equipa que já tanto sofreu, provam desde logo uma nivelação por baixo nos primeiros lugares. Até o SC Braga, que já esteve bem mais longe, pode juntar-se à confusão, mediante o resultado da partida com o Benfica.
É, como tal, certo que temos campeonato, embora não necessariamente líderes fortes."
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