"A Saúde mental, é um assunto que deve merecer a nossa atenção, dos atores desportivos e também da Sociedade civil, existindo uma obrigação e um dever de o fazer de uma forma consistente, já que ainda permanece bastante oculta e estigmatizado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) discute a saúde mental em termos de um estado de bem-estar, a saúde mental envolve o bem-estar físico, social e mental.
A AAOP na sua procura constante de "Libertar o potencial Olímpico" tem este compromisso na sua agenda para 2023, dar visibilidade e consistência ao tema da Saúde mental, e é já nessa sequência que tivemos este ano esta iniciativa pioneira, organizando o 1.º Seminário Nacional da Saúde mental no desporto de alta competição, no passado mês de Novembro, e em parceria com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.
Dar a conhecer entre outros assuntos a realidade da saúde mental no desporto de alta competição, foi um dos muitos objetivos a que nos propusemos, assim como reduzir a perceção negativa e o estigma associados a este problema, como também Identificar os stakeholders que podem contribuir para a melhor compreensão destes temas, e contribuir para a concretização dos objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim, começo por enaltecer aqueles que são os nossos heróis do nosso imaginário colectivo, os atletas olímpicos, eles que devem manter a sua saúde mental para equilibrar as pressões no caminho para o sucesso e desta forma conseguir um bom desempenho desportivo. Cada vez mais e mais atletas e treinadores estão a reconhecer a importância da saúde mental na performance desportiva e o seu equilíbrio com a vida, a saúde mental tem sido historicamente uma questão silenciosa e hoje torna-se como imperativo, um campeonato que é preciso ganhar!
E os atletas olímpicos, desafiam as leis da física. Surpreendem pela força, pela flexibilidade, pelo equilíbrio, pela perfeição dos movimentos, são modelos de resistência, de resiliência, de determinação. Vencem-se a si mesmos. Ultrapassam os limites. Alcançam o impensável. Levantam bancadas. São heróis, super-heróis, deuses!... E lutam. Sacrificam-se. Insistem. Persistem. Resistem. Exigem. Erram e voltam a tentar. Aperfeiçoam-se. E traçam novas metas. Uma e outra vez! São feitos da massa de que é feito um campeão Mas um campeão também chora. Habitua-se a ter por companheira a dor. Têm uma vida para além da ribalta. Com os seus problemas e desafios... Também gela perante o medo de não ser capaz. Carrega nos ombros o peso das nossas expetativas. A exigência de uma nova vitória, um novo recorde.... Sente ressoar o eco do nosso desapontamento. A constatação de que fracassou. A punição implacável da culpa e da vergonha. Simplesmente, porque os campeões, os heróis, os super-heróis, os deuses... são humanos como nós!
Dentro deste circuito reduzido de atletas de classe mundial, os atletas olímpicos, em particular, recentemente defenderam a consciencialização sobre a saúde mental. Duas super-estrelas desportivas mundiais - a tenista Naomi Osaka e a ginasta Simone Biles - ocuparam o centro do palco para promover a consciencialização sobre a saúde mental . "Prefiro ter a oportunidade de salvar uma vida do que ganhar outra medalha de ouro porque defender a saúde mental é muito mais importante. Perdemos demasiados atletas olímpicos para o suicídio. Não quero perder mais nenhum membro da minha família olímpica", disse Michael Phelps o atleta Olímpico mais medalhado de todos os tempos. E teve uma importância tão grande este despertar das consciências, que passou a ser tema mais atual, mas não chega, agora é necessário manter a sua consistência, para tal importa reflectir, convocar todos os atores e agir!
Por isso vale a pena ler esta reflexão da Drª Maria de Belém Roseira - O Desporto e o País, porque nesta, como noutras áreas, todos temos um papel a desempenhar!
'Estão hoje cientificamente demonstrados os efeitos benéficos da prática desportiva. Como em toda a ação humana, contudo, a maximização dos efeitos positivos depende do cumprimento de requisitos que busquem o bem não apenas individual mas também colectivo. Encaixam-se neste desiderato a pedagogia do aprender a perder e a ganhar, da entre ajuda entre pares, da criação de redes de suporte, da não aceitação da violência, da dopagem ou outro qualquer meio ilícito para alcance da vitória, enfim todas as regras de comportamento que a civilização foi construindo para assegurar sociedades com consciência, desenvolvidas e equitativas . Nesse sentido, as organizações que devem encarregar-se, quer da promoção, quer do desenvolvimento da prática do desporto, estão sujeitas a um conjunto de regras e também de benefícios que lhes são atribuídos pelo Estado para que possam cumprir a sua missão em prol da sociedade. Encaixa-se nesse conjunto o reconhecimento que lhes é conferido de "interesse público" o que pressupõe o escrutínio do seu funcionamento pelos órgãos competentes do Estado, mas também pela sociedade. Na verdade, a qualidade da Democracia também se mede pela transparência do funcionamento das instituições e os deveres de cidadania englobam a participação na vida e nas decisões coletivas da qual faz parte a exigência de que todos cumpram as suas responsabilidades. Neste enquadramento, faz todo o sentido que a sociedade civil organizada analise aquilo que se passa no ambiente desportivo para que tudo o que de positivo ele deve promover seja alcançado e para que o ajude a ultrapassar bloqueios ou problemas que possam beneficiar com o seu apoio. Foi este o objetivo do Seminário recentemente organizado pela Associação dos Atletas Olímpicos em articulação com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental que reuniu inúmeras entidades e atletas que consideraram que a Saúde Mental no Desporto é um tema importante, atual e que deve ser analisado sem subterfúgios. Na época atual, esta área da saúde vem tendo uma relevância inegável. As tensões de incerteza e insegurança que a vida moderna proporciona, bem como fenómenos externos, de que é exemplo a pandemia que recentemente atingiu a humanidade, a recusa em aceitar os limites da natureza humana com as pressões para os ultrapassar têm aumentado a prevalência desta doença. Para além das dificuldades na obtenção dos recursos múltiplos necessários para a sua prevenção, abordagem e tratamentos doença mental conta com uma dificuldade acrescida que é a do estigma social que gera. Por isso são geralmente mantidas em segredo em fases o que o seu tratamento seria porventura mais fácil e, quando explodem, são com frequência invalidantes. No caso do desporto podem arruinar uma carreira construída com imenso esforço de forma definitiva. Retirar a carga estigmatizante é importante - e foi um dos objetivos pretendidos - mas a identificação das más práticas que podem conduzir a estas situações é indispensável e concluiu -se neste debate que o olhar e a atenção da sociedade são fundamentais para a prevenção e identificação precoce de práticas, no ambiente desportivo, que possam desencadear a doença. Aqui, como noutras áreas, todos temos um papel a desempenhar. Devemos estar atentos e ler os sinais do que acontece ao nosso redor, não para interferir naquilo que não nos pertence, mas para suscitar a discussão do que seja objetivamente errado, apresentar propostas que previnam comportamentos perniciosos e fazê-lo à luz do dia e numa perspetiva positiva numa recusa comodista que apenas alimenta a indiferença imprópria de sociedades com maturidade.'
Maria de Belém Roseira"
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