"1. O ex-presidente do Sport Lisboa e Benfica concedeu uma entrevista programada num canal televisivo de grande audiência para expressar as suas opiniões sobre a atualidade benfiquista.
Está no seu pleno direito.
Entre os temas abordados, criticou abertamente uma proposta de alteração estatutária, apresentada há mais de 2 meses à atual Direção, que permitiria remunerar os órgãos sociais do Sport Lisboa e Benfica.
Sublinhou Luis Filipe Vieira que se trataria de um retrocesso, pois seria contrária à profissionalização do Clube que ele implementou e que os membros da Direção não devem intervir na gestão, quando muito fiscalizar se e quando chamados a essa função…
2. Ora bem, este tipo de afirmações acabam por não ser devidamente contraditadas, neste género de entrevistas, ficando no ar dúvidas que podem prejudicar, gravemente, o presente e futuro do Clube, como tantas vezes o prejudicaram desde que os "profissionais" da "profissionalização" tomaram o controlo do futebol benfiquista.
Os nomes mais visíveis da dita profissionalização, além do próprio Luis Filipe Vieira, são Domingos Soares de Oliveira, Miguel Moreira e Paulo Gonçalves.
Além de terem em comum o exercício prolongado de funções no Sport Lisboa e Benfica (entre 10 a 20 anos) com condições estatutárias e salariais muito acima da média, em padrões comparativos nacionais e internacionais, têm algo mais em comum: todos foram constituídos arguidos por motivos relacionados com a atividade profissional que exerceram no Benfica. Três deles cessaram antecipadamente funções após avaliação da consistência dos indícios imputados. Resiste Domingos Soares de Oliveira.
Ou seja, perante estes factos a profissionalização defendida por Vieira não é sinónimo de garantias de "compliance", reforço ético ou boas práticas empresariais.
3. Com esta constatação chegamos rapidamente a outras que põem em causa essa fé na "profissionalização", mesmo em termos de gestão de processos estratégicos.
Foi anunciado por Luis Filipe Vieira que a OPA seria o marco estratégico que consolidaria, no Benfica, um modelo de gestão similar ao Bayern de Munique, sinónimo de sucessos continuados.
Então, porque é que a OPA falhou? Porque o pedido de registo foi indeferido pelo regulador do mercado de capitais, a CMVM, fundamentando-se "na existência de um vício que afeta a legalidade da oferta, decorrente da estrutura de financiamento da contrapartida". Em causa estaria a verificação "que os fundos que o Oferente pretendia utilizar para liquidação da contrapartida tinham, de forma não permitida pelo Código das Sociedades Comerciais, origem na própria Sport Lisboa e Benfica - Futebol SAD, sociedade visada por esta Oferta Pública de Aquisição". Explicitou, ainda, a CMVM que os termos legais impedem uma sociedade de "conceder empréstimos ou por qualquer forma fornecer fundos ou prestar garantias para que um terceiro subscreva ou por outro meio adquira ações representativas do seu capital".
Pelo meio demitiram-se o Presidente do Conselho Fiscal e o Presidente da Mesa da Assembleia Geral.
Resumindo, a equipa profissional não soube planear, instruir e concretizar uma OPA, nem dispondo de milhões de euros para contratar os serviços de suporte e optou por não respeitar os órgãos sociais do Clube gerindo "à socapa" este assunto no seio do Sport Lisboa e Benfica.
4. Outro "dossier" que levaria à destituição de qualquer equipa de gestão profissional é o da contratualização do "naming" do estádio da Luz.
Remontam a 2005 as primeiras notícias sobre a intenção de angariar mais receita com a cedência do nome do nosso estádio. Na altura avançavam-se valores na ordem dos 3.000.000 milhões/ano. De conversa em conversa, o Benfica precisou de cerca de 15 anos para concluir que seria melhor intermediar a operação – técnica comercial tão querida no universo profissional benfiquista - com uma operadora especializada em marketing internacional. Em síntese, o Benfica em quase 20 anos de estudo e análise do tema, nunca angariou um cêntimo e poderá ter desperdiçado uma receita direta entre 40.000.000 a 50.000.000 de euros, sem contar com receitas indiretas de projeção e associação de imagens. A apregoada internacionalização não passou por aqui, não sabemos onde estacionou.
5. Outra das expressões da incapacidade da gestão profissional diz respeito às próprias instalações do estádio da Luz. Parte delas ainda não se encontrava legalizada em 2015 (áreas comerciais de 3.453 m2, bilheteiras, instalações de apoio ao campo de treinos e serviços complementares à atividade desportiva, "no total de 9.111 m2), apesar de terem sido construídas em 2003/2004. Sucede que o Benfica anunciou - mais um anúncio - que pretendia construir um piso sobre construções existentes, para ampliar os balneários do campo de treinos, os serviços do museu, instalar a fundação Benfica e serviços administrativos, numa ampliação de 10.798 m2. Mas como não tinha as anteriores construções legalizadas - e foi confrontado com o risco de liquidação adicional de taxas urbanísticas - optou por nada fazer, nem quanto à legalização das construções antigas, nem quanto às novas. Manteve-se tudo como estava. Onde está a eficiência desta gestão profissional? Na gaveta para onde foram atirados estes projetos.
6. Poderíamos continuar a expor situações de mau desempenho, promessas várias, anúncios populistas, como a reação mediática aos crimes informáticos cometidos contra o Benfica, incapacidade de intervenção associativa junto das federações e da Liga de Clubes de Futebol Profissional. Temas mais que esgotados.
7. Centremo-nos, para concluir, na gestão do futebol profissional.
Contabilizando desde 2001 até 2021, temos José António Camacho (1 taça de Portugal), Trapattoni (1 campeonato), Ronald Koeman (1 supertaça), Fernando Santos, José António Camacho, Fernando Chalana, Quique Flores (1 taça da liga), Jorge Jesus (3 campeonatos, 1 taça de Portugal, 5 taças da liga, 1 supertaça), Rui Vitória (3 campeonatos, 1 taça de Portugal, 1 taça da Liga, 2 supertaças), Bruno Lage (1 campeonato, 1 supertaça), Nelson Veríssimo, Jorge Jesus.
Qual o fio condutor entre estes diferentes projetos? Nenhum. Mudaram-se treinadores no início de época, contrataram-se treinadores com outros em funções, pagaram-se salários a treinadores após a cessação do contrato, regressou um treinador que insultou o clube e os seus adeptos. Tudo acontecia em função da pressão mediática e da oscilação de humor dos adeptos nas bancadas. A propalada recusa da gestão de "fora para dentro" foi o que sempre aconteceu na verdade. Com uma única exceção: a continuidade de Jorge Jesus na época de 2013/2014. As dificuldades de tesouraria tão invocadas para explicar o fraco pecúlio entre 2001 e 2013 não resistem a uma análise comparativa. Um concorrente com limitações impostas pela UEFA e outro saído de uma crise institucional sem precedentes obtiveram sucessos rápidos, num período em que o Benfica nadava em dinheiro.
A causa mais direta da maioria dos insucessos do Benfica neste período, que superam largamente os sucessos, está na errática política de aquisições de jogadores e na oscilação entre apostas e desinvestimentos na formação.
Vimos Luis Filipe Vieira e Rui Costa fotografarem-se com jogadores contratados sem qualquer perfil técnico, ou percurso profissional para vestirem de vermelho e branco. Alguém se lembra de Cabral, Fuchs, Bonfim, Neles, Thornton, Zé Rui, Quesnel, Fausto, Inzaghi (da Ovarense), Francisco Fonseca, Jaílson, Balboa, Patric, Leandro, Élvis, Fernández, Michel, Nuno Coelho, Da Silva, Cortez, Candeias, Djaló, Farina, Celis, Pedro Nuno, Benitez, Agra, Lema, Cádiz, Todibo…?
Com estes chegaram muitos outros que tanto elevaram o nome do Benfica, assim como os salários e comissões pagos, mesmo quando, em algumas situações, a contratação era assumida diretamente pelos serviços do Clube. Mas se chegaram também saíram, quase que empurrados, para a estrutura atingir objetivos financeiros em claro prejuízo do desempenho desportivo. Saíram jogadores e muito profissionais competentes, desrespeitados com as condições salariais insuportáveis, especialmente quando comparadas com os valores pagos na "bolha" da presidência.
O balanço das receitas pode ser financeiramente interessante apesar de a redução do passivo só ter ocorrido, substancialmente, com a antecipação de receitas da cedência de direitos televisivos.
Mas o que pretendo destacar é que o Seixal, tem sido muito mais fonte de receitas líquidas do que de proveitos desportivos. Já para não falar em fábrica de prendas para intermediários. Veja-se a troca dos 126.000.000 de João Félix pelo SUV de jogadores contratados a preços ao nível dos mercados espanhol e alemão (Raul de Tomás e Weigl) e pelo insano investimento de 100.000.000 euros com o regresso de Jorge Jesus. Com essa ilusão de riqueza vieram, também, renovações de contratos milionárias para jogadores que deixaram de ter rendimento desportivo (Pizzi, Seferovic, André Almeida).
Será, pois, caso para dizer que o insucesso dos últimos 5 anos, após a aposta em Tiago Pinto, é fruto da ausência de critérios sustentáveis de gestão – a política salarial durante a pandemia é mais um exemplo – e não refletem qualquer trabalho competente, como ontem disse Luis Filipe Vieira. Uma gestão profissional não demora mais do que dois anos a substituir Nelson Semedo, Renato Sanches, Gaitan, Sálvio ou Jonas. As suas memórias pairam nas tardes e noites do relvado do Estádio da Luz, onde se acumulam empates e derrotas que nos afastam dos títulos.
8. É, então, altura de afirmar que uma direção executiva, legitimada pelos sócios, benfiquista, presente, justamente remunerada, seria uma garantia de prevenção da repetição destes erros crassos. Luis Filipe Vieira e os que acompanham as suas ideias, que delas têm beneficiado e que ainda subsistem na administração da SAD do Benfica terão medo de provarem perante este modelo? Muito provavelmente."
Em cheio e clarinho como água pura. E um grande serviço prestado ao Benfica e aos benfiquistas. Parabéns e obrigado, João Pinheiro. Abre os olhos, Rui Costa!
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