Últimas indefectivações

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Cadomblé do Vata (Fejsa)

"O meu puto mais novo está a 2 meses de fazer 2 anos, mas tem energia suficiente para meter a trabalhar o motor de um dos tanques que o avô dele conduziu em Santa Margarida. A fim de evitar grande parte dos desastres passíveis de acontecer apenas com a sua presença, em casa temos o cuidado de lhe limitar o raio de acção à sala, permitindo-lhe a entrada noutras divisões apenas acompanhado pelo encarregado de educação ou outro maior de idade. Claro que como qualquer criança espectacular e irrequieta, partilha com a água a capacidade inata de descobrir todas as frestas existentes a caminho de outro sítio qualquer, sendo a da porta da cozinha a sua favorita. Logo que vê luz do outro lado do vão, dá corda às pequenas sapatilhas e a toda a brida deita mão à vassoura, não com o intuito de cuidar do piso, mas para varrer tudo o que estiver à vista no balcão. Quando estou de humor mais cinzentão, limito-me a agarrar no objecto de limpeza, proferindo com voz solene um severo “deixa a vassoura Afonso”. Em dias de alegria e boa disposição, pego na vara vermelha e e em tom doce peço encarecidamente “Filhão, larga o Fejsa”.
Bem sei que todas as brincadeiras têm um dia o seu fim. A canalha cresce, cansa-se dos pais e deixam de ver piada a 90% da nossa interacção com eles. Esta contudo, sempre pensei que pudesse fazer parte da nossa relação pai/filho até à sua ida para um Regimento de Cavalaria qualquer, porque mesmo daqui a 10 ou 11 anos, “Fejsa” ainda seria aquele sérvio de 41 ou 42 anos, com mais medalhas no peito do que um General soviético, que de 5 nas costas continuava a ser a Vassourinha do meio campo Encarnado. O destino assim não quis e quando o meu herdeiro caçula estiver a atravessar a adolescência, o nome do balcânico apenas será um daqueles Fantásticos que lhe alimenta a Paixão Gloriosa, porque o pai dele fez questão de incluir a História do Sport Lisboa e Benfica como disciplina de estudo intensivo, no seu percurso de formação académica e pessoal.
A verdade é que o rumor já marcava a actualidade encarnada e branca, mas como qualquer adepto que olha para o fenómeno do Benfiquismo com uma enorme dose de romantismo cego, não estava preparado para a confirmação. Aquele que nos últimos anos foi o minucioso porteiro do nosso último reduto vai-nos deixar, partindo rumo ao País Basco e a uma realidade desportiva, que apesar da idade, um atleta da sua estirpe competitiva não merecia. A frase “Ljubomir Fejsa pegou nas suas 11 medalhas de campeão e foi directo à luta pela permanência na La Liga” pode parecer desoladora para quem se habituou a vê-lo operar impecáveis serviços de higienização defensiva na relva da Luz, mas deixa de parte a maior provação que o futuro a curto prazo do balcânico lhe reserva: vai partilhar objectivos colectivos com Roberto Jiménez. Muita paciência e sorte é o que lhe desejo. Isso ou que se lesione rapidamente e regresse à Luz para recuperar com uma 12ª medalha de campeão a cobrir-lhe o coração."

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