Últimas indefectivações

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Cadomblé do Vata (Cores...)

"Os 24 fundadores do Benfica eram jovens rapazes de uma simplicidade desarmante. Quiseram jogar à bola, juntaram-se numa farmácia e formaram um clube. Sem problemas, chamaram-lhe simplesmente Sport Lisboa e definiram para equipamento calções brancos e camisola rubra, sem listas, quadrados ou cornucópias. Apenas vermelha com uma pequena barra branca no colarinho e um maravilhoso bolso branco ao peito que muito jeito daria hoje a Rúben Dias e Ferro para lá guardarem os atacantes adversários. A linha de pensamento sem rodeios manteve-se quando a bater à porta dos 40 anos de existência, a presença do Salgueiros na 1ª Divisão obrigou à escolha de equipamento alternativo, definido em singelo uniforme branco da cabeça aos joelhos.
Assim, durante cerca de 50 anos, o Glorioso deu espectáculo pelo Mundo fora em modo bi-cromático, alternando apenas a cor do Manto Sagrado entre vermelho e branco, juntando-lhes esporadicamente uns garbosos calções encarnados. Até que quando se queimavam as últimas tochas dos miseráveis anos 90, o mercantilismo futeboleiro passou a ditar regras e em nome do merchandising começamos a brincar às passarelas com o equipamento alternativo, mantendo felizmente a classe característica da pele principal, com notáveis excepções naquelas Olympics que pareciam 3 tamanhos acima em todos os jogadores, umas Adidas com 3 enormes listas verticais de cada lado do peito a abraçar o logo da Telecel e (a verdade tem que ser dita) aquela muito mal amanhada réplica do manto original que nos levou ao fim do jejum em 04/05.
Se em relação ao equipamento principal, os tiros ao lado foram excepções, no alternativos estas aconteceram nos sucessos. A branca do ano transacto debruada a preto e outra ligeiramente mais antiga pintada a vermelho ou o preto de 09/10 mereceram aplausos. Outras houve que foram insólitas mas não más, como o famoso "azul à Benfica" ou o rosa que viu a estreia de Cardozo na Roménia. O pior foram aquelas mesmo execráveis, onde é obrigatório destacar acima de todas, um amarelo torrado vindo do inferno, a feita em folha de alumínio com quase invisíveis letras e números vermelhos e meus amigos... a cinzenta de 19/20.
Para o comum mortal, não é fácil adivinhar como se chega a uma camisola como a envergada em Guimarães (podia haver perigo de confundir as brancas deles com as nossas vermelhas?). Não sou ingénuo a ponto de pensar que saiu da pena de alguém no Benfica. Claramente, falamos de t-shirt de catálogo. Há mais quem jogue e treine com aquilo vestido. Pergunto-me é o que terá sido recusado antes para se chegar... aquilo? Foi aplicada a "lei dos 3 vetos" e no final sobrou uma camisola cinzenta raiada? Se sim, mostrem-me as outras 3 que quero rir. E alguém se deu ao trabalho de se afastar 3 metros da camisola para tentar ler o que nela está escrito a vermelho morto? A Emirates paga milhões pelo patrocínio nas camisolas, mas quando optamos por deixar a Vermelhona em casa (e já nem acontece só em jogos contra outras equipas encarnadas), ninguém sabe que partilhamos parceiro com o Arsenal.
Tenho por hábito tentar sempre ver as coisas pelo lado positivo. Quando Chano eliminou o Dinamo de Bucareste vestido com o mesmo material em que se enrolam as sandes para meter na marmita, pensei "valha-nos ao menos que pior que isto é impossível". Entretanto os "Chanos" desapareceram do Glorioso, os clubes romenos deixaram de fazer sequer cócegas e os equipamentos não voltaram a ser tão maus. Mas quando vejo esta roupa alternativa, fico mesmo com vontade de comprar uma e enviar ao andaluz, para que ele junte à sua infeliz colecção."

1 comentário:

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
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