"O Benfica não jogou bem, teve muitos problemas na transição defensiva, foi previsível a atacar e só deu a volta (1-2) ao Moreirense mesmo no fim, com dois golos em seis minutos. O segundo veio da cabeça do suíço, o patinho que volta a ser bonito sem nunca ter sido feio
Éramos adolescentes, putos de secundário, o ano letivo acabou e um de nós chumbou. Ia ficar para trás nas salas de aula e nos colegas, saiu dos eixos, a mãe quis recolocá-lo nos carris e fê-lo trabalhar, durante o verão, num McDonalds. Fomos umas quantas vezes visitá-lo à hora de almoço e não houve uma vez que se tenha queixado de deixar queimar as batatas fritas, de ouvir do ou da chefe, de cair na desgraça e perder a graça aos olhos de quem o empregava.
Nem essa reacção em cadeia seria, factualmente, possível: as fritadeiras, já nessa altura que foi há uns anos valentes, estavam pré-programadas com um tempo definido que, cumprido, parava a fritura, apitava, avisava o funcionário e lá vinha o nosso bom amigo e outros tirá-las, à mão.
Ele ou o metafórico Seferovic, alvo de uma analogia fast-food de Bruno Lage não poderiam perder a reputação de empregado do mês por causa disso.
Mas o suíço perdeu imunidade nos ouvidos, ou julgou perdê-la nos assobios que escutou, marcou contra o Leipzig, pareceu mandar calar os adeptos, fez o treinador ir buscar uma figura de estilo e vê como a argumentação sobre ele é reduzida aos golos que marca e falha.
Ele, o avançado que se dá como referência para receber, tocar e libertar Pizzi, que não marca no remate de pé esquerdo (15’), na área; que volta a ser parede para dar um passe no médio, para ele decidir de frente e dar para o lado, onde Grimaldo, que remata (24’) à figura; que vai de cabeça a uma bola cruzada para trás e consegue fazê-la rasar a barra (44’) da baliza.
As acções de Seferovic são simples, descomplicadas nos toques, têm diagonais em correrias de menor utilidade num campo mais pequeno, onde a profundidade que o faz prosperar neste Benfica é encurtada por uma linha defensiva baixa do Moreirense. O suíço é dos melhores, ou menos erráticos, numa equipa lenta se a bola não rolar até Rafa, previsível em organização atacante, dependente das tabelas com Grimaldo ou dos passes de Taarabt.
Não se vê a reacção em bloco, a cercar as opções próximas de passe no espaço onde perde a bola, muito pressionante, da época passada e da Supertaça ganha há mais de um mês. Vê-se uma equipa lenta a reagir e que se abranda, ainda mais, quando é ultrapassada nessa primeira pressão e tem de correr para trás.
Abre espaços entrelinhas e deixa quem defende em igualdade nos números contra quem ataca, que são Bilel e Luther Singh, os extremos que o Moreirense mais procura em tradições e, na segunda parte, fazem muito mais do que cruzar bolas já quase na linha de fundo. Logo após o intervalo, D’Alberto cruzou, Grimaldo só olhou para a bola e não viu Singh, nas costas, a rematar de primeira (48’) para o 1-0.
A desordem acentuou-se no Benfica, com um jogo atacante imutável, onde Fejsa não se atrevia a ser solução dentro do bloco quando Taarabt recuava para filtrar a bola; Pizzi era anulado facilmente, em mais um jogo, só com coberturas de linhas de passe; Rafa insistia nos sprints com bola; De Tomás não tinha ações com bola eficazes e Seferovic desmarcava-se, na área, para que o servissem.
Perdida a bola, situação repetida pela falta de ideias e pelo trabalho de Filipe e Alex Soares, a transição continuava a ser feita a passo, para o Benfica defender contra-ataques com apenas cinco ou seis jogadores. Nené rematou isolado, na área, teve lá outra bola para tentar fintar e rematar, Vlachodimos foi obrigado a salvar a equipa longe da baliza, a cortar um passe com os pés.
Só nos últimos 20 minutos, sem Fejsa e com Gedson, encostado aos avançados sem bola e com físico para recuperar metros após bolas perdidas, o Benfica melhorou um pouco, sendo que melhorar significa empurrar as linhas do Moreirense para a área, aumentar o número de cruzamentos, puxar Rúben Dias para intervir na bola, forçar que algo acontecesse em vez de o fabricar com ideias.
A primeira verdade hipótese de marcar veio de um cruzamento alto, de bem longe, do central, para a área, onde D’Alberto sofreu do mal de Grimaldo e deixou o pequeno Rafa cabecear o 1-1, com cinco minutos por jogar. Nesse tempo, Jota recebeu uma bola à esquerda, curvou-a para a área com força e jeito para, entre os centrais, o empregado não deixar queimar (90’+1) a única vez que o serviram como deve ser no jogo.
Cabeça, golo, 2-1.
Seferovic desatou a correr em direcção ao banco, deslizou de joelhos, gritou e berrou mais ainda ao último apito, curvado para si, não para o ar ou com um dedo à frente da boca. Ele não pareceu o empregado do mês de um restaurante. Ele foi o melhor que o Benfica teve no meio do pouco que produziu, jogou, mostrou e corrigiu em relação ao que tem sido, nas últimas semanas.
Houve é Seferovic a irromper de entre os erros defensivos, a apatia pós-bolas perdidas e a lentidão nas transições defensivas, tipo de coisas que deixariam queimar muitas batatas se tudo voltasse a ser uma analogia frita e ultra processada."
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