"Fechou a 2 de Setembro o mercado de transferências em Portugal (e na maioria dos países europeus) e foram seis as aquisições do SL Benfica: Raul de Tomas, Cádiz, Caio Lucas (contratado em Janeiro), Carlos Vinícius, Chiquinho e Morato. Cádiz já se encontra em Dijon para jogar na equipa local por empréstimo dos encarnados e Morato vai integrar os trabalhos da equipa B das águias, trabalhando (como é o caso nesta pausa para selecções) esporadicamente com a turma principal. Ainda assim, e pese embora o pouco que há a dizer nesta fase sobre ambos, integram o top que se segue, por não deixarem de ser contratações para esta época desportiva.
1. Chiquinho – E não é a melhor porque este senhor jogador voltou para fazer estragos. Com futebol nos pés e na cabeça, Chiquinho só podia ser travado da cruel forma que foi: por lesão. Ainda assim, pela qualidade que colocou em campo e que importou ao jogo do SL Benfica sempre que entrou vindo do banco de suplentes, merece o lugar mais alto do pódio do Top de contratações 19/20. E se voltar a ser o que era, vai fazer valer esse estatuto.
Em campo explanou a sua polivalência, o seu critério, a sua capacidade de decisão rápida, o seu jogo colectivo, a sua técnica refinada, a sua capacidade defensiva, a sua garra e a sua paixão pelo futebol (bem) jogado. Joga e faz jogar pela direita ou pelo centro, mais avançado ou mais recuado no terreno de jogo. Tem golo, mas não é egoísta. É, nas palavras de Bruno Lage, “um craque”. Não há melhor descrição. Foi, pelo rácio qualidade-preço (foi resgatado ao Moreirense por quatro milhões e meio de euros), a melhor contratação das águias para esta temporada. De longe.
2. Raul de Tomas – Aceito as críticas ao espanhol, mas não compreendo. Aceito que Bruno Lage o defenda, mas não compreendo a incongruência das suas palavras (diz que o jogador não joga como segundo avançado, mas sim lado a lado com Seferovic e depois diz que não é fácil para de Tomas porque “veio substituir um grande jogador que é João Félix”? Em que ficamos?). Um avançado deve marcar golos, sim, mas no futebol moderno a sua missão em campo é muito mais alargada. Tem que correr, pressionar, dar as costas à baliza quando necessário, fugir das zonas próximas da área que por sinal são as zonas de marcação e tem que se entregar ao jogo em todos os seus momentos. E se para o fazer tiver que delegar a tarefa de marcar a companheiros de equipa, não há, a meu ver, grande problema.
Importa que na análise global à prestação do jogador se conclua que esta foi positiva. Avaliar um jogador por um só parâmetro – por mais importante que seja – torna-se redutor. E a verdade é que, apesar de estar a zeros, de Tomas tem sido muito importante na manobra ofensiva da equipa, no equilíbrio defensivo, entregando-se de corpo e alma ao jogo no momento de pressionar, nas transições, nas bolas paradas defensivas, entre outros aspectos do jogo encarnado para os quais o espanhol ex-Real Madrid FC tem contribuído de forma muito positiva.
Não quer isto dizer que o jogador possa e vá acabar a época sem golos apontados. Não, tem que marcar. E acredito que o fará. Muitas vezes. O que quer dizer é que é redutor criticar de Tomas após cinco jogos apenas por não ter cumprido um parâmetro do jogo apenas. Pelo que já demonstrou e pelo que acredito que vai demonstrar, creio que a segunda contratação mais cara da história do clube será a segunda melhor contratação da época 19/20.
3. Carlos Vinícius – O brasileiro de 24 anos foi uma contratação surpreendente, pelo timing (já de Tomas havia sido contratado) e pelo montante da transacção: 17 milhões foi quanto o SL Benfica pagou ao SSC Napoli pelo matador que em Portugal alinhou no Real SC e no Rio Ave FC. Um montante bastante elevado, mas que acredito terá retorno desportivo – e financeiro -, dado o valor que me parece ter Vinícius. Fez 36 golos em três temporadas (por Real SC, Rio Ave FC e AS Mónaco) e demonstrou muita capacidade física, técnica e de finalização, sendo exímio em tudo o que concerne a um ponta-de-lança tradicional, incluindo no posicionamento e nas movimentações dentro da área adversária e nos seus subúrbios.
Ainda não teve tempo suficiente para se impor – até por só ter participado num jogo de pré-época (à porta fechada, frente ao CD Cova da Piedade) -, mas irá fazê-lo, podendo, quiçá, agarrar a titularidade enquanto Seferovic estiver no seu país natal a calibrar os pés numa das melhores oficinas de relógios-suíços do mundo. Ainda assim e apesar dos meros 38 minutos em que participou (divididos em quatro jogos oficiais), já apontou um golo, na Luz, frente ao Paços de Ferreira FC. Foi caro, mas creio que se tornará barato.
4. Caio Lucas – Contratado em Janeiro, a seis meses do final do contrato que o ligava ao Al Ain Sports & Cultural Club, o virtuoso tecnicista brasileiro chegou a Lisboa sem bagagem europeia. E sem a cultura táctica necessária para se impor de forma clara no lote de habituais titulares. Apesar da vontade demonstrada, apresenta ainda algumas lacunas no momento defensivo e alguma indefinição no momento ofensivo. Com Rafa a brilhar tanto, não tem tido outro remédio que não ficar à sombra. Em Braga, teve 15 minutos para se mostrar, período de tempo que se revelou curto, até porque nesse quarto de hora – e com quatro golos à maior para o SL Benfica – o SC Braga tomou conta do jogo.
Todavia, o que mostrou na pré-época – qualidade do drible, verticalidade, coragem no 1 vs 1 ofensivo, imprevisibilidade, entrega ao jogo – foi suficiente para permanecer no plantel. Dificilmente será titular sem autorização do dono legítimo da ala esquerda, mas é uma excelente opção para ter no banco e usar como “abre-latas”, como “desbloqueador” de jogo, entrando quando a partida está tão caótica que não lhe é pedido rigor defensivo e em que as suas qualidades ofensivas poderão fazer a diferença.
5. Morato – Contratado como aposta de futuro, o central brasileiro de 18 anos da escola do São Paulo FC vai estar às ordens de Renato Paiva numa primeira instância, de forma a ganhar ritmo de futebol profissional e de futebol europeu e ambientar-se à nova realidade. Se aliar às qualidades que lhe apontam uma forte mentalidade, uma grande capacidade de trabalho e uma maturidade como a demonstrada pelos principais jovens da formação do SL Benfica, pode, já na próxima temporada, tornar-se o sucessor de Conti, Jardel ou até de Ferro ou mesmo de Rúben Dias.
Apesar dos bons centrais que despontam na formação do clube da Luz, Morato vem colmatar uma lacuna que em breve se viria a revelar: a falta de centrais canhotos, que tenham no lado esquerdo do eixo da defesa o seu habitat natural. Apesar da qualidade de Miguel Nóbrega, Pedro Álvaro, Gonçalo Loureiro ou até de Pedro Ganchas – que me parece uns furos abaixo –, o central de 1,90 m vem acrescentar e não ocupar ou bloquear espaço de crescimento. Fez bem o SL Benfica em se antecipar aos clubes financeiramente mais capazes, ainda que para tal tenha desembolsado uma quantia atípica para a contratação de um jovem sem provas dadas (o valor concreto não foi revelado, mas terá sido algures entre os seis e os dez milhões de euros).
6. Jhonder Cádiz – O jovem avançado venezuelano demonstrou ao serviço do Vitória FC qualidades que agradaram à estrutura encarnada: capacidade física aliada a poder de explosão, leitura táctica (patente nas movimentações, na procura da profundidade e na forma inteligente como pressiona) aliada a uma razoável capacidade técnica e uma veia goleadora incomum para um jogador de equipa que luta pela manutenção (10 golos em 35 jogos).
A contratação avançou e o desempenho nos primeiros treinos agradou, chegando mesmo a marcar no treino aberto ao público. No entanto, a lesão contraída nos primeiros minutos em campo na primeira partida de pré-temporada impediram que o internacional por duas ocasiões pela Venezuela mostrasse serviço. Face às opções para a frente de ataque à disposição de Bruno Lage, Cádiz perdeu definitivamente o seu espaço no plantel e a saída acabou por ser natural. Ainda assim, trata-se de um jogador interessante que ainda está a tempo de se impor no futebol europeu."
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