"Na Era da comunicação nas redes sociais em que, tanto e ainda bem, se discute a sua pertinência e oportunidade, vou abrir uma excepção, pensando em voz alta por esta via. Nunca falo publicamente sem ser convidado, nem expresso posições profissionais sem ser para isso convocado. Neste caso, pela distância física em que me encontro e pelo relativo afastamento dos canais mais tradicionais, senti necessidade de reflectir sobre um assunto muito badalado nos últimos dias e para o qual gostaria de dar um pequeno contributo técnico e pedagógico. Não corro o risco de incomodar muita gente porque, comunicando por esta via, só “3 pessoas” terão acesso aos despropósitos que aqui colocar.
O tema é a transferência do jogador João Félix para o Atlético de Madrid. Tenho ouvido muita gente a pronunciar-se sobre este tema. Com todo o respeito pelas expressões de toda a gente, gostaria de ter ouvido diversas formas de apreciação, concordantes aos diversos tipos de origens dessas intervenções. Porém, não foi isso que aconteceu. Invariavelmente assisti à expressão de opiniões, todas respeitáveis mas, praticamente de todos os intervenientes do tipo: “na minha opinião …” .
Claro que para comentadores, analistas ou adeptos, e outros interessados, essas formas de expressão são absolutamente claras, compreensíveis e respeitáveis. Já para técnicos de futebol esse tipo de comentário parece menos assertivo e com menos contributo pedagógico. Não estaremos a apreciar estéticas, paixões ou representação mediática de um jogador de elevada qualidade, estamos a dar contributos para que outros observadores, não tão especializados no treino e rendimento desportivo, possam ter uma visão mais transparente da situação. Dito isto, e correndo o risco de ser mal interpretado por sobranceria ou presunção negativa, gostaria de expressar posição sobre esta transferência de modo um pouco diferente.
O João Félix é, hoje e para qualquer equipa de futebol a nível mundial, um jogador de elevada qualidade, que tem todas as condições para jogar a elevado nível em qualquer equipa de topo. Esta é a posição que assumo, sem receio de, no futuro, ter de andar a correr atrás de um prognóstico que efectuo sem qualquer receio ou constrangimento. E porquê? Por que razão não expresso uma opinião mas sim um prognóstico? Porque tenho obrigação de o fazer – ou então se tenho receio ou desconheço o desfecho, fico calado – e porque sigo critérios e avaliações para esse desiderato.
Eu já vi o João Félix fazer “triplo salto mortal no solo”! São poucos no Mundo que o fazem. Por isso, mesmo que algumas vezes lhe possa sair menos bem, ele sabe dar este salto, que outros não sabem, nem nunca conseguirão fazer. Tenho utilizado critérios para distinguir os níveis de prática e os níveis de praticantes de futebol. Vou tentar, de forma rápida e resumida, colar esses critérios no que este jogador apresenta na actualidade. Para localizar, no meu entendimento, o nível em que ele se apresenta nesses critérios, utilizarei uma escala subjectiva de 1 a 10, como a medicina utiliza nas escalas de dor (pela dificuldade de medir a dor por escalas mais objectivas, é frequente os especialistas recorrerem a estas).
Assim, vou considerar os seguintes critérios da actividade futebolística, que podem caracterizar o desempenho de um jogador e ligar à respectiva avaliação actual:
Rigor/ Precisão – 9
Eficácia/ Competência – 9
Frequência/ Regularidade – 8
Responsabilidade – 9
Empenhamento – 9
Auto-Domínio – 8
Esta avaliação carece, por um lado da chamada de atenção para o facto de se tratar de um jogador de 19 anos, com necessidade de tempo para aprofundamento de algumas qualidades e, por outro, de algum detalhe, nalguns conteúdos chave da sua actuação futebolística, para que a avaliação proposta seja mais clara.
Quais são, então, esses conteúdos chave? No meu entendimento – não esquecendo que todas as competências são importantes para o desempenho de um jogador – elejo, no entanto, algumas, no caso e nas funções que o João Félix desempenha, para clarificar as razões porque entendo que o prognóstico para ele é seguro e sustentado para o topo do futebol.
Elenco os conteúdos a que me referi e coloco igualmente uma avaliação de 1 a 10. Assim, temos:
Finalização após passe com pé direito – 9
Finalização após passe com pé esquerdo – 8
Finalização de cabeça – 9
Combinações drible/remate – 10
Finalização após recepção e controlo – 10
Assistências (último passe para remate) – 9
Combinações em zona adiantada – 9
Potência e aceleração para as acções ofensivas específicas – 9
Potência e aceleração para as acções defensivas específicas – 8
Resistência específica para a função – 7
Sem entrar em mais detalhes, dispensáveis para este comentário e também por não ter dados para uma avaliação mais circunstanciada, realço que se trata de um jogador de 19 anos, que fará, naturalmente, evoluções nos domínios da resistência específica e das exigências mentais (emocionais e cognitivas), que tenderão a aperfeiçoar, umas, e a solidificar, outras, das elevadas competências que já revela actualmente.
O João Félix é, por todas as razões técnicas, um valor seguro, um jogador de topo mundial que, com toda a naturalidade, nos dará a satisfação de ser mais um português – à semelhança do Cristiano e de outros mais – a prestigiar o nosso futebol e não só. Para finalizar, faço uma declaração de interesse, dizendo que nada me liga ao João Félix, não o conheço pessoalmente, nem tenho qualquer ligação à sua vida profissional ou social. Aproveito a desejar-lhe as maiores felicidades."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!