"Valorizar, elogiar, reconhecer. Três verbos em desuso na língua portuguesa. O espaço dos jornais, dos programas de rádio e de televisão, é demasiado apertado para se dizer mal e demasiado largo para se dizer bem.
E, no entanto, este é um tempo difícil e constrangedor, em que se torna inevitável dizer-se bem do futebol português. Por culpa da Selecção, sim, mas, se nos dermos ao incómodo de pensarmos um bocadinho além da finitude das primeiras impressões, devemos incluir num extenso Bem-Haja, outra expressão em significativo desuso, os clubes que fabricaram tão bons jogadores; os seus treinadores, que tão apaixonadamente os criaram e desenvolveram na expressão máxima dos seus talentos; a extensa equipa da Federação Portuguesa de Futebol que os convocou e lhes deu a nobreza maior de representar Portugal.
Não é fácil, devemos de admitir, representar bem, ou seja, com a maior dignidade, um país e um povo, através da arte de jogar uma bola com os pés.
Bem sei que há gente que não suporta tal ideia plebeia, mas é gente que vai ter de se conformar com a inevitabilidade da ocasião. O povo sai à rua em homenagem aos seus jogadores, aos seus ídolos, e não vai, sequer, à janela, quando passam, soberbos, esses iluminados que furiosamente rejeitam as supostas pequenas razões para a alegria da população.
Pois é, amigos, o tempo é de dizer-mos bem. Conformem-se e aquietem-se, apesar da raridade do momento. O futebol português, que tão diabolizado tem sido por crentes e ateus, está de parabéns e merece que lhe reconheçam o mérito. Sejam pacientes até ao regresso da normalidade."
Vítor Serpa, in A Bola
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