"Infelizmente não conheço nenhum adepto fanático de um clube pequeno. Adorava perguntar-lhe o que o faz ir aos jogos, o que o faz sofrer por uma equipa de jogadores limitados, que vai jogar mal, perder na maioria das vezes e dificilmente alguma vez ganhar um título. É a expressão máxima do amor a um clube na realidade. Saber que vão sempre dar mais ao clube que ele vai dar a si. Mesmo assim, acho fascinante. Tornar-se-á algo platónico e vale pelo convívio, pelas amizades que a envolvência ao clube cria, ou as expectativas são reajustadas: 3 pontos são uma espécie de conquista da Taça da Liga e a fuga à despromoção o equivalente a ganhar o campeonato?
Eu sou adepto de um clube grande. Que regra geral terá bons jogadores, que farão boas jogadas e conquistarão títulos. Recuso-me a aceitar que sou um plástico “glory hunter” porque isto já vem desde criança, altura em que corria era atrás do pião e não de qualquer glória futebolística. Na minha adolescência e juventude nunca vi o Benfica a ser campeão e isso não me fez ceder. Sei que se o sonho mais desejado de portistas e sportinguistas alguma vez acontecesse e o Benfica fosse parar à 2ª divisão ou aos distritais, eu continuaria a apoiar o clube. Mas lá está, aceitando os passos atrás, mas querendo os passos à frente até ao 1º lugar. Até ao Trono.
É que o futebol também é uma espécie de Game of Thrones. No caso do Reino Português há historicamente três Casas pretendentes ao Trono: Benfica, FC Porto e Sporting. Já muitas batalhas travaram entre si e vão-se revezando nas conquistas. Todos os anos preparam o assalto ao Castelo e só um acaba por vencer. O que conquista celebra durante dias, sabendo que ficarão as memórias e as escrituras gravadas a bordões de ouro em livros que serão lidos por gerações futuras. Poemas, canções e lendas nascerão dessa conquista. Mas no ano seguinte já nova guerra despontou no Reino e de pouco vale qual o Rei que se sentou no Trono, se no ano corrente a cor da bandeira no ponto mais alto do castelo for outra.
A vida é o momento. O futebol também. Por isso todos os anos queremos ser campeões. Mas existe um “holy grail” ainda maior que o ser campeão. É a derradeira princesa após derrotar todos os dragões que aparecem pela frente. E esse “holy grail” chama-se…hegemonia. É essa a palavra que eu mais desejo associada ao Benfica. Não é Glorioso, nem Campeão. É Hegemónico. Porque isso vai além do passado recente, do presente e do futuro próximo. Quando um clube tem uma hegemonia significa que está num longo ciclo de conquistas que as outras Casas não conseguem parar. Num ano até podem recuperar alguma fronteira, mas sabem que no ano seguinte provavelmente a voltarão a perder. Porque o Rei Hegemónico regenera muito rapidamente e nada perdoa.
Na História do Reino Lusitano é possível identificar três ciclos, embora não muito facilmente delimitados: A Casa Sporting teve um período de conquistas altamente intenso, embora de duração curta para uma hegemonia. Apoiado por cinco valiosos guerreiros que os livros de História consagraram como “os cinco Violinos” venceram uns incríveis 7 Campeonatos em 8 anos entre 1946 e 1954. Mas entretanto surgiu o período áureo da Casa Benfica que impulsionado pelo maior Rei que o Reino de Portugal alguma vez assistiu, de seu nome Eusébio, criou uma longa hegemonia que começou nos anos 60 e só acabou algures entre os anos 80 e os anos 90. Nesse período chegou a vencer 14 campeonatos em 18 anos, entre 1959 e 1977. Só que por entre os escombros e as sombras, a Casa Porto foi crescendo, vencendo, conquistando, até assumir uma nova e esmagadora hegemonia no Reino de Portugal entre finais dos anos 80 e início dos anos 90.
Como as hegemonias são longas e difíceis de detectar no curto prazo, é aqui que os estudiosos colocarão o ponto de interrogação. É que sem nos darmos conta, dado que muitas vezes olhamos mais para a árvore que para a floresta, é possível que estejamos a viver uma nova mudança de Casa Hegemónica. Se…e este é um “Se” do tamanho dos Sete Reinos da série Game of Thrones, o Benfica for campeão este ano, significará que conquistou 5 campeonatos nos últimos 6 anos. Até 6 campeonatos nos últimos 10 anos. Os escribas da Casa Porto farão odes à sua hegemonia e garantirão que nada está a acontecer, imitando o famoso ministro da informação do Iraque, mas algo está a acontecer, sim. Se…e este é um “Se” do tamanho de todos os dragões do Reino colocados em fila indiana, o Benfica concretizar a conquista deste campeonato, estará na verdade mais perto do meu maior sonho de sempre: começar a aproximar as duas palavras que abrem as portas para o paraíso. Benfica Hegemónico.
Nas três batalhas que faltam, só me resta desejar que o príncipe Bruno Lage se chegue à frente, montado no seu cavalo, olhe para trás e, ao ver os seus valiosos e destemidos guerreiros, grite brava e apaixonadamente: “Carrega Benfica!”"
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