"O futebol tem uma exposição mediática que permite transformar problemas da sociedade portuguesa em quase exclusivos problemas do futebol. Todos, em primeiro lugar como cidadãos, temos responsabilidades na sociedade e no modelo em que pretendemos viver. A base deste modelo é reflexo da vida familiar e educacional. Quando não damos a importância devida à escola, temos gerações mais débeis e menos preocupadas com os problemas que nos rodeiam. Ao abordarmos questões como o tráfico de seres humanos, o trabalho em condições precárias, a contratação de menores, a violência, etc., estamos a tratar de problemas de todos e não de alguns. São matérias que a todos dizem respeito, do governo ao vulgar dos cidadãos. O crescimento destas autênticas pragas só é possível porque há mercado para o seu desenvolvimento e também pelo deficiente comportamento do regulador. Sem uma atitude de combate efectivo no terreno não se consegue impor a lei. Existe um sentimento de impunidade que, além de revoltante, permite que estas actividades tenham margem de progressão. Esta triste realidade tem tendência a aumentar o seu volume de actividade em situações de debilidade económica das famílias. Com a globalização da economia e o avanço tecnológico temos de enfrentar o nosso problema interno e também o externo. Não se minimize o problema a uma única actividade, por muito mediática que ela seja. Por exemplo, a actividade económica paralela representa uma percentagem importante para o PIB, e claramente não é o desporto, e a sua mais representativa modalidade, o futebol, responsável maior por esta realidade. Tapar o sol com uma peneira não resolve o assunto, apenas deixa mais confortáveis os prevaricadores. Por curiosidade escrevo este texto nesta altura do ano, data que representa um conjunto de valores que têm que ser lembrados, pois andam algo esquecidos. A crise também é de valores."
José Couceiro, in A Bola
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