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sábado, 13 de abril de 2019

O futebol é um gajo estranho

"Taarbat percebeu, aos 29 anos, que passou os últimos anos a desperdiçar o imenso talento que possui. O encontro com Bruno Lage, nos treinos da equipa B, suportou uma aposta pouco consensual, mas que teve resposta positiva dentro das quatro linhas. Nunca é tarde para se ter uma segunda vida.

O jogo ante o Feirense marcou a estreia como titular de Adel Taarbat pela equipa principal do Benfica. Uma aposta surpreendente de Bruno Lage, três anos e nove meses depois de o internacional marroquino ter sido anunciado como reforço das águias, na sequência de uma transferência a custo zero com direito a contrato milionário, numa tentativa de relançar uma carreira, após um exercício a roçar o nulo ao serviço do QPR, tão promissora como labiríntica.
Tanto dentro como fora do campo, Taarbat nunca justificou a aposta dos encarnados. O peso excessivo e os permanentes atropelos a regras elementares da condução de um jogador profissional ditaram a ausência de apostas por parte de Rui Vitória, treinador que ainda chegou a deixá-lo no banco, no longínquo Outono de 2015, nas partidas ante Vianense (Taça) e Galatasaray (Champions). Depois, seguiu-se a despromoção à equipa B, com um rendimento a roçar o sofrível nas sete oportunidades que lhe foram concedidas.
Peso morto e excessivamente caro, a missão de encontrar uma solução para Taarbat revelou-se hercúlea. Em Janeiro de 2017, após um ano sem competição, o empréstimo de uma época a meia ao Génova acabou por constituir uma janela de oportunidade para o libertar, mas o longo período de inactividade atrasou a sua integração nos grifones. Contudo, mesmo quando pareceu estar perto de atingir o nível que chegou a colocá-lo na rota de alguns colossos do futebol europeu após ter sido o melhor jogador do Championship em 2010/11, como aconteceu com as boas exibições consecutivas ante Cagliari, AC Milan e Nápoles. Taarbat eclipso-se e o seu nome desapareceu gradualmente das convocatórias.
Sem colocação no último defeso, Taarbat começou a escrever nos treinos da equipa B, mesmo sem o saber, a história da sua titularidade em Santa Maria da Feira. O proscrito cruzou-se com Bruno Lage, revelando, aos 29 anos, uma disponibilidade férrea para relançar a sua carreira com a plena consciência do tempo desperdiçado, ao demonstrar uma vontade indómita para o trabalho mesmo sem objectivos fixados. Uma história que continuou a ser caligrafada, ainda na equipa secundária dos encarnados, quando Renato Paiva, face à promoção de várias das suas pérolas à equipa principal, teve oportunidade de o lançar como titular nas recepções a Cova da Piedade, Paços de Ferreira e Penafiel. A resposta foi muito positiva, o que lhe permitiu voltar a treinar-se, mais de três anos depois, com a equipa principal. Seguir-se-iam os primeiros minutos de utilização ante Tondela e Sporting, antes da oportunidade como titular diante do Feirense.
Mas faz sentido conceder uma oportunidade a um jogador que em três anos nada faz para a merecer? Faz sentido preterir jogadores como Cervi, Zivkovic, Krovinovic ou Jota por um jogador com o histórico ziguezagueante de Taarbat no final do penúltimo ano de um contrato interminável? À partida, a resposta seria não. Mas foi Bruno Lage, na conferência prévia ao jogo com o Feirense, que deu os primeiros sinais de aposta que assumira no dia seguinte. Jogar na equipa principal do Benfica passa por treinar com uma intensidade muito alta, definida por Lage como 'treinar a mil'. Depois, por ter rendimento quando a oportunidade surge. E aí, podemos inteligir que a resposta dada por Zivkovic - que até foi opção principal na chegada de Bruno Lage à equipa principal -, por Krovinovic - com parcos 122 minutos de utilização na era Lage - e por Cervi - veloz e acelerativo, mas muito inconsistente na tomada de decisão - tem estado aquém do esperado pelo treinador do Benfica.
Para fazer face à ausência de Rafa, expulso após o final da partida dente ao Sporting, Bruno Lage procurou com a aposta em Taarbat tirar partido da qualidade técnica superlativa - tremendo nas recepções orientadas - do médio-ofensivo e da sua boa tomada de decisão sob pressão. Sem a capacidade lancinante para atacar o profundidade do internacional português, Taarbat soube invadir  espaço interior a partir do corredor esquerdo, abrindo-o às subidas de Grimaldo, mas, sobretudo, mostrou capacidade e ferocidade para encontrar espaços entre as linhas defensivas intermediária do Feirense, metamorfoseando-se de jogador inquieto e instável no elo que ofereceu paciência e critério à criação de uma equipa que acusou de forma excessiva a ansiedade de um resultado desfavorável.

Observatório
Rochinha (V. Guimarães)
O reforço de inverno dos vimaranenses teve finalmente a oportunidade de se estrear como titular. Utilizado a partir do corredor direito, sempre em busca do espaço interior, o que permitiu libertar Tozé para o corredor central, o destro, que até marcou um golaço de pé esquerdo, ajudou a urdir um futebol combinativo, tirando partido da sua criatividade qualidade técnica e atributos no passe.
(...)"

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