"Tratando-se do mundo social, classificar é classificar indivíduos, que, eles mesmos, classificam. É classificar coisas que têm propriedade de ser classificadas. A questão da classificação, tal como ela nos é colocada em sociologia, obriga a perguntar quem classifica no mundo social? Será que todos classificamos? Esta classificação é instantânea? Como é que nós classificamos? Será que classificamos da mesma maneira que um biólogo, zoólogo ou botânico? Classificamos a partir de que definições, de que conceitos, etc.? O que é uma classificação objectiva (a partir de um conjunto de critérios ligados entre si por graus diversos, que se podem medir estatisticamente, isto é a realidade das coisas no seu estado latente)? Se todos classificam, será que os classificadores têm o mesmo peso social?
De uma forma simplista, o sociólogo Yonnet (2004, p. 112) avança com uma classificação dos desportos em duas categorias: perfeitos e imperfeitos. O futebol, o atletismo, o basquetebol, são, para si, perfeitos. O boxe (nobre arte) e o judo são imperfeitos. No primeiro caso, a qualidade da performance julga-se pelo resultado. Existe uma instrumentalização igual: bicicleta, bola, pista, peso. Os adversários confrontam-se para designar um vencedor, um vencido, e romper provisoriamente o equilíbrio, até uma próxima oportunidade. No segundo caso, a classificação tem a ver com a infiltração da qualidade no mundo da quantidade (mensuração e pela ruptura das condições de igualdade). Um juiz não é um árbitro. Um decide o resultado, o veredicto; o outro, é encarregado de fazer respeitar a regra. Os desportos imperfeitos são sedutores, e muito populares, porque eles rompem com o equilíbrio normal da competição desportiva. Mas não são democráticos. São essencialmente desportos de clientela, onde se satisfaz a hierarquia, onde o inferior se vê a admirar o superior e o dominante o dominado. São também oníricos. O segredo do futebol é a de não ficar nesta ambivalência.
Considerando o aspecto nutricional, a classificação pode ser de desportos de curta, média e longa duração. Um médico francês especialista em desporto (Dr. Dumas), referenciado por Bouet (1968, p. 70), resume-os da seguinte forma:
· Os desportos de curta duração: breve esforço, que não permite uma alimentação pré-competitiva. É o caso do atletismo, por exemplo, onde se concebe muito mal que o “sprinter” se possa alimentar durante o esforço.
· Os desportos de média duração: que obrigam a uma alimentação pré-competitiva. É, por exemplo, os desportos de equipa, onde a meio tempo se pode e deve ser utilizada para fins de descanso e recuperação energética.
· Os desportos de longa duração: que obrigam a uma alimentação pré-competitiva, como é caso do ciclismo, o alpinismo, a espeleologia, etc., que necessitam de um suplemento alimentar durante a competição.
· Mas estas considerações têm limites. As condições de treino moderno, sobretudo para o alto rendimento, requerem uma especialização nutricional racional.
A alternativa da classificação dos desportos de competição e em não competição foi alvitrada por Staley (1955). Ele distingue:
· Os desportos de acrobacia (fundamentalmente não competitivos). Exemplos: ginástica, patinagem no gelo (figuras), rodeo.
· Os desportos atléticos (fundamentalmente competitivos). Exemplos: basebol, futebol, ténis.
· Os desportos de combate (fundamentalmente não competitivos): Exemplo: esgrima.
· Os desportos de natureza (fundamentalmente não competitivos). Exemplos: canoagem pesca e vela.
· Os desportos individuais atléticos (fundamentalmente competitivos). Alguns representam uma forma competitiva de um desporto não competitivo. Exemplos: corrida de bicicleta, corrida a pé, corrida de skis.
Esta classificação encontra-se, em vários aspectos, desactualizada. O filósofo Bouet (1968) classifica as práticas desportivas em cinco grandes grupos:
· Os desportos de combate (boxe, judo, karaté, aikido, luta).
· Os desportos com bola (futebol, andebol, basquetebol, voleibol).
· Os desportos atléticos e de ginástica (halterofilia, atletismo, natação, ciclismo).
· Os desportos de natureza (alpinismo, canoagem, mergulho, espeleologia, pesca).
· Os desportos mecânicos (motociclismo, automobilismo).
Em suma, não se sabe qual é a força social destas classificações.
Referências:
Bouet, Michel (1968). Signification du sport. Paris : PUF.
Staley, Seward (1955). The world of sport. Illinois: Champaign.
Yonnet, Paul (2004). Huit leçons sur le sport. Paris : Gallimard."
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