"Um dia apenas após mais um jogador na Colômbia (Juan Quintero) sofrer um atentado com 6 disparos (o que, de resto, não aparenta ser uma prática incomum naquele lado do globo) e após precisamente 6 meses da redacção do primeiro texto sobre o ataque à academia de Alcochete, cabe olhar de novo para esta temática, possivelmente até numa perspectiva mais optimista.
Tendencialmente, não somos muito “bons” (os portugueses) em termos de produtividade (entenda-se, levantamento de possíveis cenários de crise e devidas soluções) – curiosamente, tendemos a ser muito eficientes a “reagir”, nomeadamente em situações extremas (temos, por exemplo, o reconhecimento internacional no que respeita ao esforço e medidas portuguesas para fazer face à crise).
Há 6 meses atrás, um país incrédulo com a sucessão de eventos, pedia justiça e medidas drásticas para fazer face a um dos episódios mais negros da história desportiva portuguesa – medidas que, de uma vez, estancassem a sucessão de eventos e que se assumissem como uma clara afirmação de não apoio à violência – as únicas que nos poderiam afastar de um previsível cenário ao “estilo colombiano”.
E essas medidas, a pouco e pouco, têm surgido:
* uma investigação que levou, desde cedo, à prisão preventiva de dezenas de indivíduos que, ao contrário do esperado (passarem talvez 1 a 2 noites encarcerados) se encontram sujeitos a esta medida já há 6 meses;
* a criação da Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência do Desporto, consequência natural do envolvimento:
o do Comité Olímpico de Portugal, que em 2017 sugere a instalação de uma Autoridade Nacional para Segurança no Desporto – privilegiando um foco na protecção e segurança – organizando, para o efeito, uma convenção internacional que reuniu vários actores sociais (polícia incluída) e especialistas internacionais;
o da própria Federação Portuguesa de Futebol;
* ou até à recente prisão de dois arguidos suspeitos de orquestrarem o ataque a Alcochete (Bruno de Carvalho e Mustafá), de facto, tem-se sentido uma clara vontade de usar este incidente como uma clara afirmação de inadmissibilidade – por outras palavras, da não aceitação da violência sem consequência nem apuramento de responsabilidades.
A confirmar-se, a serem apurados os responsáveis e a serem actuadas duras medidas de responsabilização, talvez se presencie o início de um novo paradigma que, desejavelmente, se deve estender a todas as áreas da Sociedade.
A impunidade associada a determinados actos, sem aparente responsabilização aos danos causados a terceiros, acaba por minar a capacidade e vontade do cidadão comum em se envolver e comprometer com uma qualquer mudança que se entenda imprescindível.
Que janela de oportunidade?
Por esta razão, e em variadíssimas vertentes, Alcochete pode transformar-se de facto, num excelente case-study – seja para a compreensão de um conjunto de fenómenos sociológicos (que irá do comportamento das massas face a um dado estilo de liderança, ao comportamento de um conjunto de sujeitos que, deixando-se instrumentalizar, se encontra já há 6 meses a sofrer as consequências dessa mesma “escolha”, entre outros), de liderança (os riscos e benefícios deste “novo estilo”: o do Presidente Adepto, por exemplo) e até emocionais (no que respeita às sequelas que as vítimas possam apresentar a médio-longo prazo, mediante a observação de quadros de stress pós-traumático).
Pode, ainda, assumir-se como um verdadeiro marco de mudança – ou, não nos dissesse a literatura científica na área da intervenção em crise que, para grandes fenómenos disruptivos, importa criar mensagens simbolicamente opostas mas, de intensidade semelhante. Entenda-se: para uma grande “crise” importa encontrar uma solução de igual dimensão e impacto afectivo antagónico (no caso, positivo).
Por esta razão, o SCP encontra neste momento reunidas as condições ideais para, chamando a si o papel de principal interlocutor no combate à violência no desporto, assumir um claro envolvimento em todas as medidas, sabendo posicionar-se acima de qualquer resquício clubístico num tema que, afinal, é de todos.
Esta é, de facto, uma oportunidade única que não deveria ser desperdiçada, uma vez que resultará, inevitavelmente, não só num agigantar de orgulho e sentimento de pertença mas também numa clara medida de resgate da reputação institucional."
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