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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Futebol social

"Sou do tempo em que me chamavam à janela para parar de jogar à bola e ir fazer os trabalho de casa. A mim e a todos, de tal maneira que se tornava complicado levar um jogo até ao fim com mesma equipa porque as mães não paravam de gralhar pensando que os filhos não estudavam e só jogavam à bola. Afinal, eu, como tantos outros, não menos do que hoje, estudei, e a bola não me impediu de nada, mas a minha mãe não queria ou talvez não pudesse saber disso.
Hoje faz parte do meu ofício utilizar a bola para fixar os jovens na escola e para os ajudar a desenvolver competências pessoais e sociais importantes para a sua vida. Mas também para atingir patamares de integração social e diálogo intercultural difíceis de conseguir com outras estratégicas. Para promover uma cidadania de valores, para organizar solidariedades e assistir vítimas de tragédias, para combater a pobreza, para o envelhecimento activo jogando futebol a andar, para a prática desportiva daqueles a quem a deficiência ostraciza e para tanto mais...
O que mudou então?
Na realidade, nada! Senão, vejamos:
O gosto das crianças e jovens pela bola é uma constante e prolonga-se pela vida adulta até à velhice.
Os benefícios da prática desportiva para a saúde são os mesmos de sempre.
A capacidade de ligar as pessoas e de estreitar relações sociais entre diferentes, mesmo em situações-limite, mantém-se.
E não é de agora, basta saber um pouco de História e ver o que se passou por exemplo nos campos entrincheirados da Primeira Guerra Mundial com jogos na Terra de Ninguém entre equipas inimigas.
Talvez tenha mudado, isso, sim, a nossa capacidade individual e colectiva de ver que há muito mais no futebol do que o próprio futebol. A sociedade percebeu, finalmente, que existe um futebol social e chegou ao entendimento de todos que as grandes mudanças podem também fazer-se à custa das coisas simples da vida. E uma bola é simples, mas na verdade transforma em brincadeira a forma geométrica da perfeição. Precisamente a esfera na concepção de Aristóteles e Pitágoras, dois homens de visão clara que ajudaram a mudar o mundo..."

Jorge Miranda, in O Benfica

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