"Quatro meses.
O Real Madrid teve mais de sessenta dias para avaliar, pensar, reflectir, pensar novamente e escolher o treinador certo para o projecto da equipa principal. Depois de ter feito tudo isso, acredita-se, optou por Julen Lopetegui e não perdeu tempo em segurá-lo: assinou até poucos dias antes do início de um Mundial. O que colocou em cheque o carácter do treinador e agitou a selecção espanhola.
No fim de contas, o resultado de tanta avaliação, pensamento, reflexão e mais pensamento, durou quatro meses. Um dos quais nem sequer teve competição.
Bastaram pouco mais de noventa dias para o Real Madrid rasgar um acordo que devia ter sido feito em consciência. Com ponderação, equilíbrio e sensatez.
Num comunicado que lava as mãos e tapa os olhos, Florentino Perez pôs aquela cara do não olhem para mim, só estava a passar por aqui, eu nem sequer sou o responsável por isto e tão pouco estou de acordo, mas sou uma pessoa educada e não posso permitir esta traição.
Pôs enfim uma cara de anjo e vestiu um par de asas.
A verdade é que a esmagadora maioria dos dirigentes de futebol parece ter sido excluída dos jogos quando era criança e tenta recuperar o tempo perdido em adulto. Não é bem uma vingança, é um acerto de contas com algum tipo de caso mal resolvido na personalidade.
Comportam-se, enfim, como se estivessem no recreio da escola e desta vez fossem eles a mandar.
Põem e dispõem, mandam entrar e sair, proíbem, castigam, promovem e despromovem, contratam e dispensam. Sem um critério, sem uma ideia, sem um fundamento.
No fundo para nós, simples mortais que tivemos uma infância normal, que brincámos ao pisa o pé e à macaca, à apanhada e ao bota fora, que jogámos à bola até ser hora de jantar, dirigir um clube devia ser uma coisa feita com método e preceito, seguindo princípios bem definidos e um conceito superior de caminho para o sucesso. Uma coisa séria, portanto, que não se regesse por impulsos.
O Real Madrid acabou de nos mostrar que muitas vezes não é assim.
Mas quem fala em Real Madrid pode falar de qualquer outro clube. Em Portugal, por exemplo, as chicotadas psicológicas tornaram-se rotineiras, por vezes um clube tem até três treinadores numa época. Neste preciso momento, aliás, José Peseiro e Rui Vitória estão com a corda na garganta.
Um dia qualquer haverá um treinador despedido e um dirigente a lavar as mãos.
Como se também ele não fosse culpado, como se também ele não tivesse falhado, como se também ele não fosse responsável pelo fracasso que a equipa poderá estar a viver.
Gil y Gil dizia que, para ele, despedir um treinador era como beber uma cerveja. «Posso despedir vinte. Posso até despedir cem treinadores, se for preciso.»
O que no fundo é lapidar. É assim que funciona um dirigente num país latino.
Sem um critério, sem um desígnio, sem um projecto. Será assim tão difícil fazer as coisas bem feitas?
Quatro meses, meus senhores..."
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