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quinta-feira, 26 de julho de 2018

Sabe quem é? Com o não de Salazar - Eusébio

"Aos 15 anos, a Juventus quis levá-lo para Turim, não foi por causa da mãe. Tentaram-no de novo, tropa travou-o

1. Aos 15 anos, poderia ter sido o primeiro português na Juventus, Elisa Anissabene não deixou. Vendo-o em jogo, um turista acidental beliscara-se para saber se era mesmo verdade o frenesim que lhe saía do corpo, o fulgor que lhe saía dos pés - e era. «Falaram com a minha mãe para me levar logo dali - mas Itália, para ela, era uma grande confusão, por me achar um garoto e ser longe. Disse-lhes não e, não muito depois, surgiu o Belenenses a dar 110 contos por mim. E a seguir, apareceu o FC Porto a dar 150».
2. Não foi para o FC Porto - e, sem grande tardar, puseram-no no Benfica. Ao sabê-lo, o Sporting tentou desviá-lo para Alvalade. «Muito dinheiro me prometeram para dar o dito por não dito. Não dei, passaram às ameaças: que nunca seria autorizado a jogar pelo Benfica, que seria irradiado do futebol - e pior: Coluna chegou a aconselhar-me cuidado até a atravessar a rua, que podiam atropelar-me...»
3. Percebendo que nem a pressão, nem a ameaça o tiravam no finca pé, o Sporting tentou, então, a sedução para o demover. A pretexto de o levar ao cinema, Hilário levou-o, clandestino, a casa de Jaime Duarte, chefe do futebol no Sporting: «Apresentou-me papéis nos quais queria que eu pusesse a minha assinatura. Não sei o que diziam, não cheguei a lê-los. O que sei é que o senhor me disse que se eu os assinasse, me daria os maços de notas que me mostrou». (Os maços faziam 500 contos, hoje seriam 183 mil euros).
4. Estava a viver no Lar do Benfica. Para lá voltou em alvoroço a contar o que se passara com Jaime Duarte. Gastão Silva ordenou a Domingos Claudino, proprietário de frota de táxis, que o levasse para o Algarve - e que lhe escondesse até calças e sapatos, por precaução. (Para os sportinguistas foi rapto, para ele não). «Fomos para Meia Praia durante 12 dias. Pegava na bola de manhã e passava o dia a correr e a dar toques sozinho, na praia».
5. Ao cabo de vários meses em turbilhão fechou-se a novela com 400 contos despachado para o Sporting de Lourenço Marques. Atraso no desfecho impedira-o de jogar a Taça dos Campeões que o Benfica ganhou ao Barcelona - e, na que ganhou ao Real, jornalista inglês escreveu: «Às 21.20 horas desta quarta-feira, Di Stéfano, de 35 anos, tirou a camisola, entregou-a a rapaz de 19, de Moçambique - e assim lhe entregou o velho capitão a sua posição, a sua coroa simbólica...».
6. Antes, num jogo de Portugal em Wembley, Haynes, o capitão inglês, não calara já deslumbramento que lhe cruzara os olhos: «É excepcional! Ganha 50 libras? Eu fazia greve!» (Greve era palavra maldita. Que censor, distraído deixou que passasse em parangonas por A Bola. E 50 libras eram 4 contos).
7. Era cada vez mais fascínio - e em Outubro de 1963, chamaram-no à selecção do Mundo para partida de comemoração do Centenário do Futebol - em Wembley.
8. Horas após o seu regresso de Londres assentou praça no Regimento de Artilharia Antiáerea Fixa, como soldado-recruta 1987/63 - com direito a 200 escudos de pré por ser desarranchado (200 escudos era a multa mínima aplicada pelos cabos de mar que, de fita métrica a eito, criandavam pela areia a ver se os fatos de banho cumpriam a norma de um decreto que os determinava de muito tecido - a máxima podia ser de 4000).
9. Se, no quartel de Queluz lhe coubesse serviço qualquer, acabava sempre por arranjar forma de se livrar dele, pagando a colega para  fazer - os oficiais permitiam-no a... Bem da Nação. Mandá-lo para a tropa fora a solução que Salazar patrocinara para evitar que pudesse ir para Juventus.
10. A Juventus oferecera ao Benfica por 16 mil contos. Para ele, poderiam ser, em prémios e salários, 4000 (que, agora seria, quase milhão e meio de euros) - e revelou-o: «O Benfica deve ter falado com ele, o Salazar mandou chamar-me e disse-me que eu não podia sair do país porque era uma instituição nacional ou lá o que era. Depois, ainda fui umas oito vezes a São Bento - e, mal, entrava, o Coluna avisava-me, preocupado: 'Não digas nada!' Só queria perguntar-lhe por que é que não me tinha deixado sair para a Juve, nada mais. O Coluna repetia: 'Está calado, caladinho' - e eu estava». Continuou, por cá, a receber 4 contos ao mês - e o cachet de Amália andava pelos 10 contos ao espectáculo."

António Simões, in A Bola

PS: Mentira. É pena que o António Simões, tenha este tipo de interpretações maliciosas, quando tenta passar por historiador:
O Salazar pessoalmente estava-se marimbando se o Eusébio ficava no Benfica ou no Cascalheira de Cima... O Regime, não 'inventou' serviço militar obrigatório para o impedir de ir para a Juventus, todas as figuras públicas, principalmente os 'grandes' atletas, principalmente os futebolistas, todos eles cumpriram o serviço militar obrigatório, mesmo que na maioria dos casos tenha sido um serviço militar a 'fingir' longe das obrigações normais de qualquer militar... Era essencial para o esforço de 'guerra', como bandeira de propaganda, o Eusébio e outros, vestirem a farda...
Em Portugal sobre Ditadura, ou nos EUA Democráticos como aconteceu com o Elvis, ou o Ali...!!!

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