"Não sei se foi pecado, mas foi um jogo fechado. Também não sei se foi pecado, mas foi um jogo aberto. Contradição? Não, de todo. Fechado na postura do Uruguai, que beneficiou, é verdade, de um golo cedo, um golo tranquilizador, que condicionou a sua acção posterior e perturbou os nossos intentos. Aberto, no que diz respeito ao resultado, imprevisível até ao apito final, mesmo depois da igualdade garantida pelo combinado luso, a que se seguiu um novo remate certeiro do antagonista.
Portugal andou sempre à frente do jogo, ao invés do que sucedeu nos três embates antecedentes. Paradoxalmente, ficámos atrás no resultado. Parece contraditório, mas não é. Ter bola não é tudo, ter golo é (quase) tudo. Portugal teve mais bola, Uruguai teve mais golo. Porquê? Porque ter bola pode ter defeito, ter golo é sempre perfeito.
A turma adversária batalhou muito, foi sempre abnegada. Até quando levou um soco de Pepe, soube reagir à tontura, com ideias precisas, cabeça pensante, pés firmes. Portugal lutou, lutou muito, quase até à exaustão, mas perdeu na eficácia, ante uma muralha sem brechas, humilde e tão singela quanto infalível. Foi o triunfo do futebol cerrado com episódicas e bem-sucedidas aventuras ofensivas, frente a uma equipa disponível, trabalhadora, mas carente de soluções eficazes.
Campeões da Europa em título, abandonámos o grande certame com alguma precocidade e a consequente lamentação. Faz sentido, ainda que possamos ‘namorar’ no infortúnio, por exemplo, a Alemanha, a Argentina, a Espanha. Este Mundial pode reservar outras surpresas e, cada vez mais, os colectivos bem formatados, mentalmente muito sólidos e inteligentes na gestão do jogo, podem ganhar ascendente, mesmo contrariando apostas maioritárias.
Agora, que futuro para Portugal? Nenhuma razão para dramatismo, muitas razões para optimismo. Temos de nos agarrar ao nosso estilo, à nossa tipicidade. Temos bola, gostamos de bola, sabemos de bola, queremos bola. Verdade que estilo sem sucesso dói e retira poder. Adultera personalidade, afasta convicção, castra confiança. Mas estilo é sempre estilo e, bem gerido e melhor interpretado, tem tudo para conduzir ao sucesso.
O estilo, o nosso estilo, aquela forma tão portuguesa de jogar, é o trajecto que conduz ao poder. Bola, muita bola, sempre bola. Habilidade, destreza. Imprevisto. Se temos reconhecida vocação e indubitável paixão, Portugal só pode estar sempre presente nos grandes acontecimentos do futebol. Não é crença, é mesmo certeza."
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