"Os nós fazem-me confusão. Os nós de gente, a mistura nem sempre equilibrada dos sentimentos, os nós cegos que vão crescendo na garganta, também eles impossíveis de desatar.
Sochi - Não gosto de fios. De nenhum fio. Chego à bancada de imprensa do estádio, mergulho a mão na mochila e os fios dos carregadores do computador, do telemóvel, do iPad surgem-me embaraçados uns nos outros, provocantes, presos em nós cegos que ultrapassam os limites da imaginação e exigem dos dedos movimentos que só estão ao alcance de prestidigitadores. Fico pasmo, mudo. Como se uma rede de fios embaraçados me tivesse tomado conta do cérebro e do raciocínio. Chego até a ter medo.
Não gosto de nós. Volto a meter os fios dentro da mochila na esperança de que voltem a ser fios normais e não uma mistura de todos os cabos presos a uma ligação quase familiar, quase fraterna. Depois tirá-los-ei, um de cada vez, num milagre de desmultiplicação de filamentos.
Os nós fazem-me confusão. Os nós de gente, a mistura nem sempre equilibrada dos sentimentos, os nós cegos que vão crescendo na garganta, também eles impossíveis de desatar. Onde andas tu que não te conheço mais? Onde andamos nós, que já não nos conheço a ambos? Que fios continuam a ligar-nos, que cordéis nos prendem se nem sequer os distinguimos, quais os meus, quais os teus? Como se desata esta confusão que dói? Nós, nós sim, mas nós no singular. Fomos nós, ou apenas cegos? E, no entanto, já pensaste bem? Fala comigo, por favor, enquanto a noite não se transforma de vez num brilho ácido de manhã.
Eu e tu: dificilmente duas palavras ficariam melhor juntas."
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