"Estive a analisar serenamente a época do Benfica e cheguei a uma conclusão: ainda bem que não fomos campeões. Foi agradável erguer o troféu durante quatro anos consecutivos, porém, a ambição não deve nunca transcender a sensatez. O leitor já imaginou o Paulo Lopes, quase a completar 40 anos, a trepar para a trave da baliza e levantar 10 Kg no ar? A idade não perdoa, e a agilidade não é a mesma de outros tempos. Acontecia de o homem dar um tombo, e a festa tinha de se deslocar do Marquês de Pombal para o Hospital da Luz.
Não seria a mesma coisa. Para além disso, as 36 taças de campeão nacional são exactamente iguais. Desde a de 1936 à do 2017. Há, naturalmente, espaço para mais no Museu Cosme Damião, contudo, sou da opinião de que só valerá a pena conquistar o campeonato quando a Liga alterar o formato do troféu. Viaja um benfiquista desde a Suíça, Cabo Verde ou mesmo de Marte até à Luz para visitar as relíquias do museu, na expectativa de contemplar uma considerável variedade de estatuetas e, logo à entrada, depara-se com uma overdose de canecos idênticos? Há um profundo desencanto. Para aqueles clubes que têm, sei lá, somente metade desses troféus, a repetição não cansa tanto a vista. Lembro-me bem de entrar no museu do Benfica em 1971, quando as 18 taças de campeão nacional se ladeavam harmoniosamente entre si (é mentira, em 1971 o meu pai tinha apenas três anos, podia lá eu ser nascido). Concordo que 18 taças iguais ainda é um número aceitável, mas 36 já começa a ser aborrecido.
Espero bem que a Liga contrate um designer o quanto antes. Quero poder torcer pelas vitórias do Benfica sossegado, em ter de me preocupar com a questão estética do Museu Cosme Damião."
Pedro Soares, in O Benfica
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