"Michael Carrick vai sair de cena. Percebe-se a inexorabilidade do tempo e, neste caso, os cuidados cardíacos após o susto contra o Burton Albion, em Setembro, diminuíram o número de presenças no Manchester United nesta época.
Estes são os últimos dias da temporada e, tal como Carrick, outros vão-se preparando para os últimos minutos de competição nas carreiras. Em Portugal, Luisão ainda não anunciou o que pretende fazer no Benfica e, em Espanha, para além de Iniesta ter feito o seu último Clássico, Xabi Prieto motiva manchetes inspiradoras na imprensa basca para o próximo fim de semana.
Xabi Prieto é uma verdadeira lenda 'donostiarra' e só conheceu um clube: a Real Sociedad. Será que, algum dia, o Athletic vai homenagear o capitão 'txuri-urdin', do maior emblema rival, com o prémio atribuído desde há quatro anos intitulado “Homem de um só clube”, como fez com Le Tissier (Southampton), Sepp Maier (Bayern), Paolo Maldini (Milan) e, na semana passada, com Carles Puyol (Barcelona)? Xabi Prieto preenche os requisitos e eu gostava de assistir a isso.
Mas voltemos a Carrick, que talvez seja um dos médios-centro mais subvalorizados dos últimos tempos. Podia ter sido mais rentabilizado num alinhamento em simultâneo com Gerrard e Lampard na seleção inglesa. Tinha de ser num triângulo, mas a obsessão britânica pelo 4-4-2 tirou-lhe contexto para se afirmar com a camisola dos Três Leões com maior assiduidade. “Só” completou 34 internacionalizações.
Em Manchester, ficou com o número 16 de Roy Keane nos Red Devils, mas é melhor deixar os pontos em comum por aí mesmo. Carrick precisava de garantir eficácia na recuperação da bola ao lado de Paul Scholes. Mas caçava a bola sem fazer peito ou carrinhos a matar para intimidar e a partir daí controlar o meio-campo. Esse até podia ser mais o ‘modus operandi’ de Keane, salvaguardando, ainda assim, que o irlandês nem era propriamente desprovido de técnica.
Em todo o caso, Carrick era diferente. O 'playmaker geordie' (era adepto de infância do Newcastle e foi polido pelo West Ham, em Londres) impunha-se, antes, pela leitura de jogo, que era mais avançada do que a maioria dos centrocampistas ingleses na segunda metade da década de 2000. E Ferguson percebeu o que tinha em mãos, até já numa fase em que recorria mais vezes a um desenho com três médios, rascunho que já tinha imaginado quando adquiriu Verón em 2001 para que a equipa não manifestasse inferioridade no meio-campo em provas europeias.
Carrick tinha a particularidade de chegar muito bem à baliza para marcar golo. Procurava a tabela e a rotura com movimentos objectivos, ao mesmo tempo que a sua manobra em zona de construção teve sempre alguns traços de Busquets, acrescentando mais ideias na elaboração das jogadas de ataque.
Mourinho prometeu que, domingo à tarde, Carrick jogará a titular em Old Trafford, contra o Watford, no seu último jogo na Premier League, antes de abraçar a carreira de treinador. Acredito que vai entrar e sair com o recato do costume, com toda a pinta de anti-herói. Mas será exactamente desse modo que o vamos glorificar."
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