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quinta-feira, 27 de julho de 2017

Os 'tours' (o cá da bola e o de França sobre rodas)


"Não me desagradam estas previsões pessimistas quanto ao Benfica. Temo-nos dado bem com estas 'bolas de cristal'.


O intróito
Eu, benfiquista, me envaideço. Um fim-de-semana em cheio no atletismo, judo e, sobretudo, no triatlo, onde a equipa encarnada se sagrou campeão europeia. Assim, fica bem claro qual é o clube, em Portugal (e na Europa?), com o máximo título europeu em mais desportos colectivos, a saber: futebol, hóquei em patins, atletismo (estrada), futsal e, agora, triatlo. Cinco modalidades de um clube que faz do ecletismo um dos seus baluartes institucionais e iconográficos. Sou benfiquista e isso me envaidece!

Os três 'grandes'
1. Confesso que só vejo os jogos de preparação do Benfica. Não vejo os jogos do Sporting e do Porto, não necessariamente por alergia ou indiferença. É que estes jogos de aquecimento, sejam do Benfica, ou de outros clubes, são, em regra, partidas enfadonhas, com segundas partes reduzidas a substituições por atacado e sem o sal e pimenta fundamental no futebol que é a importância do jogo ou da competição. Parafraseando o que, na semana passada, Rogério Alves, escreveu em A Bola, também prefiro uma qualquer supertaça da Eslováquia ou Letónia, onde está em causa um troféu, a jogos de preparação, amigáveis ou particulares (estas três qualificações nem sempre são coincidentes, sobretudo o carácter amigável...).
Ainda o defeso é uma criança, mas começam a ficar minimamente visíveis os pontos fortes e fracos dos três tradicionais e sempiternos favoritos ao título de campeão.
O Benfica está a contar dinheiro que jorra na sua tesouraria, ainda que de passagem para os bancos credores, e, de 'repente' (entre aspas, porque é o que parece, não necessariamente o que é) lembrou-se que sem Ederson, Lindelof e Nélson Semedo, o sector defensivo ficaria debilitado. Repito o que aqui escrevi a semana passada. Não consigo entender a saída de Ederson com um encaixe excelente para a... conta-corrente da Gestifute. Que mal seria mais um aninho no Benfica? O rapaz é novo, tinha muito tempo para voar para outros impérios de novos-ricos, e, seguramente daqui a um ano, haveria a mesma possibilidade de concretizar um excelente negócio. A estória dos guarda-redes do Benfica afigura-se complexa. Há um velho, Júlio César, notável, naturalmente, na fase descendente. Há, um novo, o promissor B. Varela, que todavia, não dá ainda garantias para ser titular. Falta o de meia-idade, ainda misterioso entre alguns nomes que têm vindo à estampa, sabendo-se que a pressa não é boa conselheira. Devo dizer, todavia, que aplaudo a não concretização da transferência de André Moreira do Atlético de Madrid, pois o moço, até agora, ainda nem sequer vestiu o equipamento para fazer uma partidinha...
Seferovic não engana. É mesmo um excelente atacante, o que permitirá a transferência de Jiménez ou Mitroglou. Na defesa, à direita, há o sempre generoso André Almeida, nem como Buta e Pedro Pereira. Todos longe, porém, do virtuosismo de Nélson. E que tal pensar em Salvio para este posto?
Última nota: a época ainda não começou, mas já 5 jogadores têm estado no estaleiro, tal como o ano passado. Coincidência? Azar? E a nova equipa médica? Será precisa alguma bruxa ortopédico-muscular?

2. O Sporting parece-me mais forte do que antes, ainda que só saibamos quem entrou e não quem vai sair e muita haja por saber as mais de 10 (!) aquisições já feitas. Mais forte, sobretudo no plantel total, que não necessariamente no onze inicial. Doumbia poderá ser um excelente reforço (mas Podence é mais virtuoso) e Bas Dost dá garantias. Já na defesa, acho que poderá ficar menos bem. O pré-reformado Mathieu e o leão Coentrão têm um percurso de excelência, é certo, mas resta a incógnita de um época de mais de 50 jogos. A propósito de Fábio Coentrão, registo para memória futura as suas tão prestimosas declarações sobre a vinculação eterna ao Benfica e o seu amor vitalício ao Sporting (Oh, Fábio, não havia necessidade...). Jorge Jesus continua com os traumas dos laterais. Já assim era no Benfica, sobretudo à esquerda. Agora, no SCP, insiste no problema à direita, com importação de refugo externo.
Mais do que futebol, o que agora e após o fim da suspensão do presidente leonino anima a malta é o pedagógico e prestimoso bate-papo com Octávio Machado, entretanto terceira escolha para director do futebol. Reparará Bruno de Carvalho que essa inconfidência é mais danosa para ele e seu clube do que para Octávio?

3. O Porto, em regime de austeridade imposta, pode surpreender. Se mantiver alguns dos jogadores-chave, e tendo-se reforçado com alguns regressos de valor, como Aboubakar (na minha opinião melhor que André Silva) e Ricardo Pereira, antevejo uma equipa sólida e estável a começar no sector defensivo. Já considerando todo o plantel, essencial para uma época longa em várias competições, poderá haver alguma debilidade, podendo vir a ser o calcanhar de Aquiles dos dragões. E, não questionando a determinação e competência de Sérgio Conceição, há algum risco de descarrilamento do comboio, dependendo do início de época e do maior ou menor controle de um temperamento impulsivo e errático do técnico.

4. Quem é o favorito dos favoritos? Pelo que já tenho lido e ouvido de especialistas da praça, o Benfica não o será... O costume, aliás, nestes últimos anos, em particular desde que Rui Vitória treina o clube. Pelo contrário, as expectativas quanto ao Sporting são sempre exponenciadas, tendo presente a secção de compras e as maravilhas que dela advêm. Não me desagradam estas previsões pessimistas quanto ao Benfica. Temo-nos dado bem com estas bolas de cristal. O tetra é disso a prova, e o netra dos outros também.

O Tour de França
Acabou a 104.ª edição da Volta a França em ciclismo. Acompanhei como sempre com prazer La Grande Boucle, através de notáveis transmissões televisivas, que nos ofereceram com uma beleza quase inexcedível, não apenas o colorido e longo pelotão, como também o pavé, a paisagem envolvente, as terras por onde passa, o património cultural e os ex-libris dos percursos.
Há sinais de que foram superadas, ainda que não esquecidas, as sequelas das batotas e do doping endémico. A prevenção e o maior investimento no jogo do rato e do gato contra a dopagem dão um certo ar de alívio nesta nova fase do Tour.
Venceu e bem pela quarta vez (terceira consecutiva) o britânico-queniano Chris Froome, repetidamente assobiado pelos gauleses. Assistimos ao crepúsculo de Alberto Contador, também um notável campeão. E novos valores emergem como Landa, Aru e Herbert. Pena que, no contra-relógio decisivo, a televisão francesa tenha sido tão chauvinista que secundarizou o camisola amarela para se centrar no francês, então segundo classificado. Percebo a ânsia de ver um gaulês ganhar o Tour, o que já não acontece há 32 anos (B. Hinault, 1985), mas não havia necessidade...

Contraluz
- Mão (de qualquer eliminatória)
Mas, afinal, a mão não é falta no futebol? Já os ingleses dizem mais acertadamente leg (perna).
- Equipamento.
O principal do Benfica 17/18 foi considerado pelo jornal britânico The Telegraph o 2.º mais bonito do mundo, a seguir a um Bayern. Esqueçamos o alternativo.
- Interrogação
No futebol feminino, a linguagem de género não chega a certas posições no campo? Por exemplo, Média em vez de Médio e Extrema no lugar de Extremo? Já para não falar na Atacanta!
- Pensamento
«Em futebol, o pior cego é que só vê a bola»
(Nelson Rodrigues, 1921-80, dramaturgo brasileiro)."

Bagão Félix, in A Bola

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