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quarta-feira, 13 de julho de 2016

Ó mar salgado, quanto do teu sal [voltam a ser] lágrimas de Portugal

"PARIS - Decidi escrever mais um Sous Le Ciel de Paris, porque ontem, já em Orly, apercebi-me, depois de ler a Imprensa francesa, de que ainda havia alguma coisa que estava por dizer. Mas, antes disso, não posso deixar de partilhar a emoção que foi ver, a quase dois mil quilómetros de Portugal, a festa de Lisboa, uma celebração com uma dimensão inédita no nosso País, um sentimento de pertença e de união comovente.
Um sentimento de amor pela Pátria. Um sentimento feito de coisas positivas, sem amarras a um passado que procurou colar essa ideia a outras práticas. Não me envergonhei nunca do orgulho que tenho em ser português, da ancestralidade do nosso legado, do que demos ao Mundo e de quem somos. Mas, durante décadas, este sentimento puro foi muitas vezes - estupidamente - confundido com reaccionarismo. Qual quê. É o que somos, quem somos! E acaba por ser a Selecção Nacional a estar na primeira linha da destruição deste complexo contranatura que impedia muitos de gritarem o amor à Pátria.
Com a vitória de Portugal no Campeonato da Europa de 2016, o imaginário pessoano foi recuperado e podemos de novo cantar, «Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!» Porque em cada canto do mundo onde há portugueses ou onde a cultura portuguesa significa alguma coisa, derramaram-se lágrimas de felicidade, lágrimas há muito contidas e que serão recordadas para todo o sempre. Quem viveu o 10 de julho jamais o esquecerá. E a maré encheu com as lágrimas salgadas de Portugal.
Quase não tenho palavras para a imagem fortíssima que foi ver Xanana Gusmão, um dos heróis do Portugal moderno, que dá novos mundos ao mundo e defende a liberdade e os direitos humanos, em Dili, sentado na janela de um automóvel a celebrar os heróis de Saint-Denis. O mesmo Xanana a quem tive oportunidade de oferecer, nas faldas do monte Ramelau em Timor-Leste, um emblema de ouro de A BOLA e que me disse: «A BOLA é um grande jornal, representou sempre muito para nós.»
Além deste turbilhão de emoções, confesso que foi com agrado que acabei de ler as edições de terça-feira do L'Équipe, do France Football e do Le Monde. Em todos eles, a contragosto, como se lhes estivessem a arrancar a pele, encontramos o reconhecimento ao mérito de Portugal, à excelência da liderança de Fernando Santos (sublime o artigo de António Bagão Félix, que já li, e que se encontra na página dois desta edição), ao primado da ideia que sempre balizou o percurso da turma das quinas e à liderança de Cristiano Ronaldo, a inspiração de um um grupo que, noutros tempos, valeria, por certo, um Canto d'Os Lusíadas."

José Manuel Delgado, in A Bola

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