"Agora que se aproximam os momentos das deliberações nas provas do nosso futebol, sabemos que a tendência para aumentar a gritaria é proporcional à importância dos jogos e à sua repercussão nos efeitos finais da época. O jogo é visto como algo que se joga em muitos tabuleiros, sendo certo que a importância da palavra (por acção ou pelo silêncio) se presta a múltiplas utilizações e diversos meios e plataformas. Curiosamente, contrariando a clássica menorização no que toca às virtudes da sua linguagem, são os jogadores os intervenientes que, como regra, mais conservam a serenidade nas suas declarações. Mesmo depois dos calores do jogo, são os atletas que aparentam ter as afirmações mais sóbrias e apaziguadoras.
Durante o jogo, correm, suam, decidem, usando o vernáculo como meio de expressão habitual e a ofensa verbal como bengala preferida. Porém, acabado o jogo, transmitem para o exterior uma lucidez que cada vez mais se sublinha. Comparadas as suas análises com as 'conferências' inflamadas ou as atitudes desabridas dos dirigentes (nomeadamente quando delegados dos seus clubes) e dos treinadores - antes, no intervalo, no decurso e depois das partidas -, são esses mesmos dirigentes (que exigiriam conduta digna ao seu trabalhador) e treinadores que mais usam e abusam do comportamento censurável em sede do insulto e da insinuação.
Por isso não se pode ceder na hora de fiscalizar e sancionar a declaração injuriosa ou difamatória. Nem a afirmação que divulga uma suspeita que atinge a reputação alheia. Nem o calão que encerra uma carga lesiva da honra e do bom nome alheio. Nem sequer a 'grosseria', que, não por acaso, é infracção equivalente à injúria ou à difamação nos regulamentos. Os códigos disciplinares (como em tempos se quis fazer crer) não admitem que o futebol seja um mundo de juridicidade à parte, em que a tolerância exigiria menos ilicitude do que noutros mundos, tendo em conta a paixão, o descontrolo emocional, a falta de consciência e a sensibilidade (ou falta de reação) dos ofendidos.
Ao invés. O futebol é seguido por milhões, sendo que o seu efeito multiplicador de exemplos é avassalador. Se os agentes desportivos falham clamorosamente no exemplo, há que pedir aos órgãos jurisdicionais e ao TAD que apliquem o direito estatuído e não enveredem por uma omissão de pronúncia ou por construções de desculpabilização. Seja para condenar quem deve ser condenado, seja para zelar pelo cumprimento efectivo das punições. Se assim não for, segue-se o precipício."
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