"Terá sido a derradeira entrevista de Eusébio, resultado de uma conversa que requeria memórias do Mundial de 1966 e previsões para o de 2014. O Rei estava satisfeito porque os exames recentes tinham sido animadores e entusiasmou-se com a hipótese de testar a prodigiosa capacidade para acumular informação, talento que estimulou até ao fim dos seus dias.
Nesse diálogo criticou a decisão da FPF em aceitar a troca de estádio para o jogo com a Inglaterra; explicou as lágrimas no fim da meia-final e desvendou por que foi pouco efusivo nos festejos do terceiro lugar. Pensou tão grande que nem a vitória sobre a URSS atenuou uma dor para a vida: não ter sido campeão do Mundo. E ainda expressou a opinião de que Ronaldo será um justo vencedor da Bola de Ouro, pondo fim ao clima tenso entre ambos. Disse ainda que a Selecção Nacional teria muito a ganhar se CR7 chegasse ao Brasil na condição de melhor jogador do Mundo, à semelhança do que sucedeu com ele em Inglaterra, no Mundial de 1966. Estarão juntos em Zurique, no próximo dia 13.
A meio fez questão de saber o objectivo do diálogo. Reagiu com indiferença à primeira parte da explicação (todos os sábados, e até ao início do Mundial, Record publicará experiências na grande montra contadas na primeira pessoa) mas não resistiu ao sorriso feliz quando confrontado com a opção de que o primeiro teria de ser o maior, o Rei do futebol português. Apesar de ter mantido uma corte que o adorou pelo tempo fora, gostou até ao fim de sentir o respeito, a admiração e o carinho dos outros. Mesmo na condição de ídolo imortal. E intemporal.
Eusébio abandonou o grande palco há mais três décadas, mas não perdeu a aura de mito marcante para gerações que só o conhecem de ouvir falar. O seu património emocional e sentimental excede os 15 anos de actividade, prova de que não foi apenas herói de um tempo mas acedeu ao lote daqueles que se transformam em património da humanidade. Nenhum outro jogador reuniu génio, peso social, sentido de representação e reconhecimento perpétuo à escala planetária, razão pela qual, desde o dia em que pendurou as botas até à madrugada em que partiu, foi a memória de um talento arrasador e figura invencível às agressões do tempo. Eusébio foi e será sempre o fenómeno que, sustentado pela paixão de um povo, excedeu o futebol, o desporto e se universalizou.
Na tarde da última conversa, da qual resultou a entrevista publicada a 14 de Dezembro, a despedida entre nós não foi como as anteriores. Porque há atitudes difíceis de explicar – provavelmente por senti-lo debilitado há muito tempo –, talvez tenha sido o instinto a alterar o comportamento: levantei-me, abracei-o por detrás e, com ele sentado à mesa, agradeci ter-me recebido na hora do seu almoço e dei-lhe um beijo na cabeça. Eusébio foi meu ídolo, meu herói e acabou sendo meu amigo. Viverá para sempre no meu coração."
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