"Luto nacional. Evidentemente. Homenagem do Estado que respeita arreigado sentimento do povo pelo FABULOSO embaixador de Portugal em duríssimos tempos de sermos país isolado do mundo, entre desconhecimento e profundo desprezo público. Eusébio, menino pobre nascido e criado em paupérrimo bairro periférico da capital moçambicana, rasgou todas as fronteiras, tornou-se ídolo com dimensão planetária, principal concorrente de Pelé, o deus do Brasil então máxima potência do futebol. Eusébio teve mesmo se der puro fenómeno para tamanho êxito em dita missão impossível, mantendo-se sediado num país pequenino e mergulhado na tragédia do «orgulhosamente sós», a par de serem escassas as transmissões televisivas de futebol, não havendo internet e toda a panóplia de difusão hoje existente. Também por isso, Eusébio, monstro de talento e raça, foi... único. Gigante do futebol, ergueu-se a enorme bandeira de Portugal. De 1962 até ao 25 de Abril, Portugal, no mundo, foi... Eusébio. Tão extraordinária a marca do futebolista Eusébio, e da sua qualidade humana, que permanece indelével quase 40 anos após o final da carreira, atravessando gerações. Fantástica popularidade mundial, pedindo meças à de que hoje desfrutam Ronaldo e Messi, com intensa TV, profusão de vídeos e marketing. E nunca o deixaram partir para Itália, Inglaterra, Espanha...
Houve grandes jogadores que duvido também fossem no futebol actual. Eusébio, de certeza, continuaria hoje a sr gigante. Técnica, força, velocidade (tremendo poder de aceleração), diabólico remate (fortíssimo e certeiro), ganas de vencer, vencer, vencer. Hoje, dinheiro para lhe pagar... só ao nível de Ronaldo e Messi, no mínimo.
Eusébio na superelite do futebol mundial (não há muito, no melhor onze de todos os tempos, eleito pela FIFA, lá estava rei Eusébio). Ele é dos, escassos, que nunca perderão o trono. Emocionalmente arrepiante: ontem, o M. United colocou a bandeira de Portugal (a meia haste) e o público levantou-se num intenso aplauso de homenagem a um ídolo mundial. Hoje, o Real Madrid jogará com braçadeira de luto. Eterno rei. Quem, um dia, conseguirá esta reacção de históricos adversários?"
Santos Neves, in A Bola
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