"Estava a fazer o exame de admissão ao ciclo, em Beja, quando o vi destroçar a Coreia do Norte, no Mundial de 1966. Um ano depois, já a viver em Olhão, vi-o calar o Comunale Vittorio Pozzo, em Turim, com um golo de livre directo de trinta metros, que deixou Anzolin, o guarda-redes da Juventus, de boca aberta. Era genial. Único. Mais tarde, já jornalista de A BOLA, conheci-o pessoalmente. Por essa altura as chuteiras do king estavam penduradas, mas ele acompanhava a equipa do Benfica, fazia tudo para não perder o contacto com a bola, a relva e os jogadores.
Lembro-me de uma vez, num estágio do Benfica em zona montanhosa da Áustria, era treinador Jupp Heynckes, de ver uma família alemã, pai, mulher e três filhotes, sozinha na pequena bancada onde se sentavam os jornalistas. Tinha feito mais de mil quilómetros para ver Eusébio, pela simples razão de que o king, em tempos idos, jogara contra o velho alemão e este queria apresentá-lo à família. Foi uma festa. Eusébio reconheceu-o. Tinha uma memória notável, até para os adversários.
E era de uma simplicidade maravilhosa. Só os génios são tão simples. Uma vez foi comer uma caldeirada de peixe comigo, mais o Vieira Dias e o comandante Prata, a bordo de uma fragata do Tejo, na Moita. Depois fomos beber café ao Rosário. Disse-lhe que ali vivia um antigo defesa-esquerdo do Barreirense, o Patrício. «O Patrício?! Quero vê.lo! Foi o defesa mais difícil de passar que encontrei! Grande amigo!» Corremos tudo e o Patrício, logo nesse dia, não estava lá.
O king tinha inimigos? Não, não acredito. Quando em 2000, no Europeu disputado na Holanda e na Bélgica, via Eusébio entrar em campo antes de Figo e C.ª e o estádio levantava-se como uma mola a gritar pelo seu nome, até me arrepiava. Como me arrepiei ontem, manhã cedo. Adeus king."
Carlos Rias, in A Bola
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