"Grupos organizados promovem violência gratuita, planeada e anunciada. Utilizam o futebol para dar azo a violência extremada e actos criminosos perpetrados em público com direito a visibilidade mediática.
A recorrência destes crimes é cada vez maior. Uns publicam livros a vangloriarem-se dos crimes, dão entrevistas e transforma-se em personagens periféricas ao desporto com influência directa nos resultados desportivos. Outros são conhecidos nos “bas-fond” como elementos ligados directamente à criminalidade organizada e em larga escala. Alguns servem de guarda pretoriana a dirigentes desportivos que fazem da corrupção uma bandeira. Comum a todos é sensação de completa impunidade de que gozam. Comum a todos é o aproveitamento que fazem da desculpabilização pública que se segue à violência. Tudo é desculpado na relativização da violência. Relativiza-se a morte de um adepto num estádio; relativiza-se o apedrejamento selvático do autocarro de um clube à entrada de um estádio; relativiza-se a tentativa de homicídio de um presidente de um clube com o apedrejamento do carro em plena auto-estrada; relativiza-se o fogo posto na bancada de um estádio; relativiza-se o arremesso de bolas de golfe aos autocarros dos clubes e aos futebolistas no relvado; relativizam-se as agressões públicas a jornalistas que retiram as queixas por falta de proteção… Tudo isto se relativiza desde que se relativizou a violência encomendada de um tristemente famoso Abel em tempos idos.
Tudo isto se relativiza com o mesmo à vontade com que se relativiza a corrupção desportiva e as provas escutadas da mesma. Tudo isto se relativiza ao ponto de hoje em dia conceitos como “estado de direito”, “democracia” e “valores civilizacionais” serem umas coisitas relativas e pouco significantes perante o valor absoluto e inquestionável do regabofe assumido com fina ironia no futebol português."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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