Amesterdão - Estava no ArenA de Amesterdão quando viu o seu companheiro Ivanovic marcar um golo pelo Chelsea e destruir o sonho do Benfica em vencer a Liga Europa. O que sentiu naquele momento?
- Um golo do meu colega de selecção... Senti uma enorme pena. Fiquei logo com medo porque foi um canto estúpido: o lateral-direito do Chelsea enviou a bola longe, pensou-se que a bola iria para fora, mas o Ramires chegou a tempo e chutou-a contra um jogador nosso. Logo ali disse a uma amigo: 'não, outra vez não! É impossível!'. É incrível em sete dias perder dois jogos no último minuto.
- O facto de ter visto aquele jogo na condição de futuro reforço do Benfica foi suficiente para sentir alguma dor?
- Nem sei o que senti porque foi um choque, nem acreditava. Tinha visto o jogo com o FC Porto, depois seguiu-se a final... Mas temos de encarar isto como parte do futebol e seguir em frente.
- Teve a oportunidade de ver os adeptos em acção pela primeira vez. O que achou?
- Eu estava na parte destinada aos adeptos do Benfica. Foi um momento triste porque vi muita gente a chorar. Mas fiquei a saber o que significava um troféu daqueles para os adeptos do Benfica. Quem sabe se não vencemos na próxima época...
- Eles reconheceram-no?
- Sim. De início foi desconfortável porque todos queriam tirar fotografias, mas não ficavam muito tempo.
- O que lhe disseram?
- Coisas do género: 'foste para o clube certo', 'é um clube grande'. Foi bom. Faz parte da profissão, é bom sentir os adeptos. Fiquei muito triste por eles. Mas gostei muito da reacção que eles tiveram após a derrota. Mesmo perdendo, aplaudiram a equipa, adorei ver, é um grande clube.
- Que consequências provocarão o final de época do Benfica?
- Há que ver um lado bom: não vencemos o campeonato há três anos e, para mim, será um prazer jogar num clube que terá ainda mais vontade de ser campeão. Esta é a prioridade, acho, do Benfica para a próxima época: ganhar o campeonato. Escolhi ir para o Benfica porque quero ganhar, pois até agora joguei num clube com menos ambições, o Heerenveen. A pressão será maior, tudo será em grande, isso já eu sei, mas jogo futebol justamente por causa disso. Estou ansioso por começar.
- Lida bem com a pressão?
- Sim. Eu tinha 17 anos quando fiz o meu primeiro jogo pelo Heerenveen e estreei-me pela selecção da Sérvia aos 16. Na altura a pressão era grande, não ao nível que vou encontrar no Benfica, é certo, mas era grande. Lembro-me que nos meus jogos de campeonato na Sérvia tinha cinco mil pessoas, no Heerenvenn tive logo 35 mil. Antes só via esses jogos pela televisão.
- Qual foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça quando assinou pelo Benfica?
- Entusiasmo. Eu tive de escolher entre várias propostas que me surgiram.
- Foram muitas?
- Sim. Partia para o meu último ano de contracto e o preço de mercado desceu. Estudámos o que tínhamos em mãos e decidimos pelo Benfica.
- O que pesou na decisão?
- Decidi-me pela equipa que melhor joga futebol, de princípio ao fim. Se tivesse de escolher entre o Chelsea ou o Benfica escolhia sempre o Benfica pelo seu estilo de futebol que joga. Mesmo que o Chelsea seja um clube maior. Mas eu quero jogar esse futebol.
- Que futuros colegas lhe levam a pensar: 'com aqueles vou dar-me bem'?
- A equipa toda! Desde o guarda-redes até ao avançado, todos sabem o que fazer com a bola. Não posso apontar apenas um ou outro porque não tenho o conhecimento perfeito da equipa, mas pelos jogos que vi, percebo que todos os jogadores querem jogar futebol e isso é incrível. Quero fazer parte de uma equipa dessas.
- Está preparado para substituir Aimar?
- Estou preparado para grandes coisas, é o que sempre pensei quando comecei a carreira. Ser futebolista é tentar subir de nível, de forma constante. Vou para um clube maior e sei que terei outras responsabilidades. Sei que serei o substituto de Aimar. Por um lado é um grande pressão, por outro é um prazer. Mas o prazer de substituir uma lenda será maior que a pressão.
- Assume-se como um clássico número 10?
- Sim. É a posição onde melhor me sinto. Já joguei como segundo avançado ou descaído para uma das alas, mas sou um número 10. O facto de o Benfica ter a tradição de jogar com um número 10 foi outro dos factores que me levaram a escolher o Benfica. Aimar vai-se embora, mas há Gaitán. Antes houve outros...
- ... como Rui Costa.
- Espero vir a ser como ele. Sou um 10 como ele foi, tenho características parecidas às de Rui Costa. Sei que ele já me elogiou e quero retribuir. Fiquei muito feliz por ele ter dito boas coisas sobre mim.
- Matic é seu compatriota e amigo. O que lhe disse?
- Falei como ele antes de assinar pelo Benfica. Somos amigos, jogámos na mesma escola de futebol quando éramos miúdos, apesar de ele ser três anos mais velho que eu. Falei com ele algumas vezes, ele aconselhou-me e disse-me: 'És um jogador com condições para jogar aqui, tens de vir'. Depois foi mais fácil dizer sim ao Benfica.
- Diz que o tipo de futebol praticado foi fundamental para a sua escolha. Mas alguma vez pensou no Benfica como um trampolim, tendo em conta o histórico do clube em vender jogadores para clubes de maior poder financeiro?
- Não. Quando tomamos uma decisão pensamos em vários aspectos: futebolístico, o tipo de clube, o tipo de adeptos, a questão financeira, obviamente, e a vida do país e da cidade. Portugal é um óptimo país para viver e tudo isso contribuiu. Foi, por isso, fácil chegar a acordo.
- Como reagiram os seus colegas à notícia?
- Tendo em conta que foi oficial apenas há pouco tempo, não houve tempo para isso. Quando me perguntavam se era verdade eu dizia 'não sei, vamos ver' (risos). Quando se tornou oficial, deram-me os parabéns.
- Acha que vai demorar a adaptar.-se?
- Não quero esperar, pretendo adaptar-me o mais rapidamente possível e entrar de imediato na dinâmica da equipa.
- A final da Liga dos Campeões da próxima época é no Estádio da Luz. Imagina-se lá?
- Podemos sempre sonhar, os adeptos também. Mas o Benfica não vence campeonato há três anos e ganhar essa competição será o principal objectivo. Mas é claro que gostaria de jogar uma final pelo meu novo clube, especialmente na Luz.
- Já traçou algum objectivo pessoal? O que será, para si, um bom começo?
- Não gosto de falar sobre os meus objectivos pessoais, quero adaptar-me o mais rápido possível e depois veremos como corre. O que mais desejo é vencer títulos no final da época.
- Das várias análises feitas à sua forma de jogar, retive uma: que pelo facto de, fisicamente, ainda não ser muito forte, Djuricic tenta estar sempre um passo à frente nas jogadas. É mesmo assim?
- Eu apenas jogo. Claro que temos de pensar no que estamos a fazer, mas devemos acima de tudo relaxar. Não é bom quando, em campo, pensamos em demasia. A intuição é o mais importante, tal como a antecipação do que vai acontecer. Sei que, entretanto, terei de melhorar a parte física e outras situações. Sei que vou apreender isso no Benfica, daí que seja um grande passo para mim.
- Gosta mais de uma boa assistência ou de um golo feio?
- De uma boa assistência, mas um golo é um golo e isso é o mais importante no futebol.
- Marcou 23 golos nas duas últimas épocas pelo Heerenveen...
- Tenho feito 14/15 golos por temporada, contando com os jogos da selecção. Em média, marquei sete/oito por época no Heerenveen, mas trata-se de uma equipa do meio da tabela, que não tem o objectivo de vencer todos os jogos. No Benfica será diferente, terei mais oportunidades para marcar. E para fazer assistências.
- Para Cardozo?
- Sim. Ou para Lima ou Rodrigo. Todos eles são grandes avançados.
- Vai estar sozinho em Portugal?
- Os meus pais estarão comigo boa parte do tempo, tal como a minha namorada. A minha irmã também irá de vez em quando, mas nem sempre. Tem 18 anos e os meus pais têm de apoiá-la agora.
- Que objectivos tem na carreira?
- Jogar o meu futebol, ser um dos melhores. Quero chegar ao topo. Acho que sou um jogador que faz a diferença. Sempre tive essa ideia na cabeça desde cedo.
- Quem é o seu ídolo?
- Kaká. Aquele do Milan. Espero ainda vir a jogar na mesma equipa dele.
A HISTÓRIA DA ALCUNHA DE CRUYFF DOS BALCÃS
- Aproveitou a embalagem, no início; depois tentou afastar-se da imagem
Amesterdão - Quando chegou à Holanda, em 2009, já vinha catalogado como Cruyff dos Balcãs. Foi uma sensação boa?
- (pausa) Foi bom no início.
- Quem é que lhe pôs a alcunha?
- Foi a imprensa (o pai, Dusan, interrompe e diz: foi o olheiro do Ajax que jogou com Cruyff. Quando viu Filip jogar na Sérvia, disse que ele jogava como Cruyff. Há quatro anos fez tudo para ele ir para o Ajax, mas não foi possível. Só que ele disse isso aos jornais e a moda pegou). Foi uma grande pressão para mim. Porque é um nome muito respeitado na Holanda, não gostam de comparações. Não se pode ter esse nome se não se for bom jogador.
- Pressão grande...
- Sim. Mas de início até aproveitei. Deram-me a escolher entre os números 14 ou 18 e escolhei o 14 (eterno número do antigo astro), o que pôs todos os meus colegas a rir. Até diziam que eu era parecido com ele: deixei o cabelo maior e tudo (risos), festejava como ele. Mas isso durou pouco e passado um tempo passei a ter a minha marca. Deixei de ser o 14 e passei a ser o 9.
«SEI LIDAR COM TREINADORES COMO JESUS»
... Os gestos, a pose, a linguagem fazem do treinador português um «entusiasta», na.... «Já tive treinadores como ele no passado. Mas agora sou mais inteligente e maduro e sei lidar melhor com treinadores assim.»
Percebe-se, pois, que houve experiências difíceis anteriores. De acordo com o ex-jogador do Heerenveen, é tudo uma questão de «adaptação» sobre os métodos de Jorge Jesus, frisando o jogador de 21 anos que o técnico é «conhecido por potenciar jogadores». «Há muitos, e bons exemplos disso», salientou, adiantando: «As questões pessoais é o menos importante, o profissionalismo acima de tudo.»
Questionado se gostaria de ser mais uma dos talentos trabalhados para exportação, Djuricic encolheu os ombros: «Porque não? O Benfica já vendeu jogadores para grandes clubes.»
«SULEJMANI VAI AJUDAR MUITO»
Amesterdão - ... «Aos 18 anos era um dos melhores jogadores da Europa», recorda Djuricic. «O Ajax comprou-o por 16 milhões de euros ao Heereveen. Infelizmente ele não esteve tão bem nos últimos anos, mas continua a ser um grande jogador»,...
«Jogamos juntos na selecção sérvia. É muito tecnicista, bom passador, chuta muito bem com ambos os pés, pode jogar nas alas ou como avançado», é a análise personalizada ao compatriota, de 24 anos. «Sulejmani vai ajudar muito o Benfica», garantiu Djuricic, assumindo que ainda não falou muito com o compatriota sobre o novo clube. «Haverá tempo, mas vai ser muito bom jogar com ele»."
Entrevista a Filip Djuricic por Fernando Urbano, in A Bola
PS: Posso estar enganado - acho que não estou!!! -, mas temos aqui um grande jogador... de todos os que foram anunciados (apesar do Djuricic ser o único confirmado pelo Benfica), este é aquele que me dá maior confiança, que tenha um impacto imediato no Benfica... até a confiança com que fala - confundida com arrogância por alguns -, me fortalece a convicção.
Tem pinta de craque :)
ResponderEliminartem atitude! nos videos é excelente... falta saber como joga na realidade. quando vi vídeos do Witsel também se via qualidade mas acabou por ser um jogador diferente do que estava a espera.
ResponderEliminarse não for muito diferente dos vídeos passamos a ter um jogador mortífero para os contra ataques