"Já haverá data marcada? E ementa? Que irão os nossos tão bem pagos quanto mal empregues deputados oferecer no almoço de subserviência àquele senhor que acha, por exemplo, que o Ministério Público é a PIDE dos novos tempos?
Não seria de bom tom convidar para o almocinho da ordem um dois representantes do dito Ministério Público?
Excitado, o hemiciclo já se vai rindo, antecipadamente, das piadolas brejeiras, dos insultos baratos, das casquinadas e dos flatos...
Afinal, ele e os amigos mais próximos tratam-se distintamente por «filhos da puta» (sic), expressão que o povo, na sua tal infinita sabedoria (a meu ver ainda por comprovar), utiliza com frequência para brindar os políticos, sejam eles ou não deputados pela nação.
Para quando, portanto, a palhaçada do costume?
O dia 7 de Junho seria, certamente, um belo dia para que a Assembleia Constituinte abrisse as suas portas de par em par para receber afectuosamente aquele senhor que gostava de ver Lisboa e arder, e com ela, presume-se, a dita Assembleia.
Encheriam todos a pança alarvemente, diriam porcarias e piadas obscenas, soltariam gases enquanto distribuíam palmadas nas omoplatas (chamando-se, presume-se, nomes uns aos outros e às suas respectivas mães), e depois poderiam ver o jogo da Selecção Nacional contra a Rússia.
Em caso de derrota portuguesa, o tal senhor abriria uma garrafa de champanhe. Parece que a isso está habituado..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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