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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Proença nas pisadas de António Garrido

"Começa-se a desenhar um quadro de treinadores principais para a próxima Liga que é um mimo regimental

NUMA festa na Afurada, o presidente do FC Porto dirigiu-se à multidão tranquilizando-a: «O tempo do fascismo e dos campeonatos decididos por decretos para os clubes da capital já acabou», disse.
Entenda-se como metáfora esta coisa dos campeonatos decididos por decreto em favor do Benfica e do Sporting. De outra maneira são a mentirola.
Mas o presidente do FC Porto meteu água à farta nesta sua tirada sobre a História do Futebol Português. Se, para Pinto da Costa, a ligação dos clubes aos regimes se mede pelo número de títulos conquistados, então é caso para podermos orgulhosamente afirmar que o Benfica só foi - espetacularmente - o clube do regime naquele curtíssimo período entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975.
O título de campeão nacional conquistado pelos vermelhos - o Salazar proibiu que se dissesse vermelhos, cheirava-lhe a comunas - na época de 1974/1975 é a prova disso mesmo. Um ano de regime igual a um título. 100 por cento de eficácia e tudo porque Salgueiro Maia era benfiquista, obviamente.
No entanto, Pinto da Costa tem razão quando refere que esse tempo «acabou». E sem dúvida que o FC Porto é - espetacularmente - o clube do regime que nasceu a 25 de Novembro de 1975 e que vigora até hoje, com duas intervenções do FMI e os piores índices da Comunidade Europeia no que respeita a matérias sensíveis como educação,justiça, canto coral, fruta e pescas, etc...
E não nos venham a dizer que a culpa disto é do 25 de Abril.
De 1935, quando se começou a disputar a prova, até ao 25 de Novembro de 1975, o FC Porto tinha conquistado apenas 5 títulos nacionais. Com o regime instaurado a 25 de Novembro de 1975, o FC Porto somou 20 títulos nacionais, o que é obra para continuar certamente, pelo menos enquanto durar o regime em vigor e o país não entrar em bancarrota.
Se continuarmos a seguir o raciocínio de Pinto da Costa e a medir as ligações aos regimes em função dos títulos conquistados, verdade seja dita que o Sporting foi o clube mais prejudicado quer com o 25 de Abril de 1974 quer com o 25 de Novembro de 1975.
Até 1975, o Sporting tinha 14 títulos. O Estado Novo foi pródigo para o Sporting, que ia na frente das contas, até à chegada de Eusébio ao Benfica.
E depois da era Eusébio, que terminou também em 1975, e depois do curtíssimo PREC e com o extenuado Estado A Que Isto Chegou que veio a seguir, os leões somaram apenas 3 títulos em 38 anos.
Têm razão, por isso, para estar aborrecidos os nossos amigos e vizinhos de Alvalade.

NO regime político em vigor, temos visto isso pelas contas públicas e os seus figurões, é fulcral a arte de saber encostar às instituições gente de confiança. E não nos venham dizer que a culpa é da democracia que tem as costas largas mas não tanto.
No regime futeboleiro em vigor, salvaguardando as diferenças, também é muito importante essa arte de encostar gente de confiança às instituições. Aliás, começa-se a desenhar um quadro de treinadores principais para a próxima Liga que é um mimo regimental.

GARAY já está de férias. Merecidas. Foi a partir do momento em que o defesa argentino de lesionou, em São Petersburgo, no jogo da primeira mão da eliminatória com o Zenit, que o Benfica entrou em colapso no campeonato. Quando Garay se viu forçado a sair da equipa, o Benfica tinha 5 pontos de avanço sobre o FC Porto. Quando Garay regressou, quase dois meses depois, já o caldo estava mais do que entornado. Estava, aliás, entornadíssimo.
Garay fez muita falta à equipa e, muito particularmente, fez imensa falta a Luisão que, sem o colega argentino ao lado a dar-lhe descanso, se viu em grandes apuros competitivos que nem sempre conseguiu iludir da forma mais brilhante.
Garay está, portanto, de férias e falou à imprensa do seu país para dizer que o Benfica «é um clube incrível» e que não se arrependeu minimamente de ter trocado o Real Madrid, campeão de Espanha, pelo Benfica, melancólico vice-campeão português.
Também Roberto Mancini, o italiano que levou o Manchester City a campeão de Inglaterra, 44 anos depois do seu último título, resolveu dedicar algumas palavras de extrema simpatia ao Benfica, comparando-o ao Real Madrid em termos históricos e mitológicos e anunciando, de alguma forma surpreendentemente, que não gostaria de terminar a sua carreira sem ser campeão em Portugal pelo Benfica.
Estes mimos caiem sempre bem. Sobretudo como paliativos quando a época terminou em tons cinzentos como aconteceu este ano na Luz.
Sempre são dois estrangeiros de reputação  internacional a vir dizer que o Benfica é incrível.
Felizmente o que eles não sabem, por serem estrangeiros e já estarem de férias, é que o Benfica é tão incrível, tão incrível que chega ao ponto de insensatamente confundir os seus 200 mil e tal sócios e amantes como meros clientes de uma linha de produtos comerciais, sequiosos de bónus e de cupões de descontos. E, assim, sendo, vai daí, na ressaca do campeonato, foi-lhes formalmente anunciada disponibilização de mais um serviço a preços reduzidos.
Está feito e assinado um protocolo com a agência funerária que oferece aos sócios do clube funerais a preços do Pingo Doce no Dia do Trabalhador-
Brutal!
Brutal estupidez de quem trata publicamente os benfiquistas, que terminaram o campeonato mais mortos que vivos, como potenciais e obrigados fregueses de um serviço funerário que, mais cedo ou mais tarde, virá a calhar. E, pior ainda, pondo-os à mercê das inevitáveis piadas dos adversários, encantados com a escolha da ocasião para tal anúncio de exéquias baratas.
Mas no Benfica não há ninguém com sensibilidade, inteligência e autoridade para evitar estas anedotas que transformam a massa associativa do maior clube português numa base de dados para uso comercial?
Mas no Benfica não há ninguém que, por exemplo, seja mesmo do Benfica e entenda que não é este o momento apropriado para anunciar protocolos com agências funerárias quando ainda nem se fez a missa do sétimo dia do Campeonato?
Fiquem sabendo, benfiquistas: a parte comercial do nosso clube funciona às mil maravilhas, o que demonstra competência no respectivo departamento. Já o objecto da Sociedade está em mutação, ao que parece. Deixou de ser futebol, a competição, as conquistas. Passou a ser a fidelização de 200 mil e tal clientes a serviços alheios e distante do objecto desportivo.
Que tristeza. E eu que julgava que nós, benfiquistas, até éramos imortais. Mas somos apenas incríveis, pronto. Já é qualquer coisa.

FAZENDO fé nos noticiários, o árbitro português Pedro Proença foi escolhido pela UEFA para dirigir a final da Liga dos Campeões já este sábado. O jogo é em Munique, entre o Bayern e o Chelsea. Mais um jogo entre vermelhos e azuis para Proença apitar. E os vermelhos jogam em casa. Quer-me parecer que vai ganhar o Chelsea com um golo do Paulo Ferreira, em posição irregular, no período de descontos.
Pelo parte que me toca, tudo bem. Estou pelo Chelsea. Por causa do David Luíz e do Ramires obviamente.
Não é, no entanto, a primeira vez que um árbitro português apita uma final da mais importante prova de clubes da UEFA. Em 1980, coube a António Garrido, outro compatriota nosso, dirigir a final da Taça dos Campeões Europeus (era assim que se chamava) entre o Nottingham Forest e o Hamburgo. Ganharam os ingleses e não houve casos de arbitragem. É caso para dizer, perante esta mais recente nomeação da UEFA, que Pedro Proença segue as pisadas de António Garrido.
E Garrido continuou em grande no futebol nacional e internacional depois de pendurar o apito. Até passou a colaborar informalmente com uma grande instituição do desporto nacional. Foi mais um encosto regimental da nossa História.
Curiosamente, dizia-se, na altura, que António Garrido era um sportinguista de gema. Tal como se diz hoje que Pedro Proença é um benfiquista dos sete costados.
São factos. Vamos lá ver até onde é que vai Pedro Proença neste seu seguir das pisadas de António Garrido. A estrada é longa."

Leonor Pinhão, in A Bola

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