"From: Domingos Amaral
To: Luís Filipe Vieira
Caro Luís Filipe Vieira
Ao longo de toda a década de 80, lembro-me de muitas noites em que a televisão se enchia com a figura de Pinto da Costa, em programas como o “Domingo Desportivo” e perante locutores como Nuno Brás, que se diz ter sido a inspiração de Herman José para criar o “Estebes”. Sempre que o FC Porto se sentia prejudicado pelos árbitros, lá aparecia Pinto da Costa a arengar. Dizia-se mesmo que havia a “cassete” dos comunistas e a “cassete” do FC Porto, sempre uma vítima do “sistema”.
A verdade é que essa repetitiva estratégia deu frutos. Já nos anos 90, Pinto da Costa chegou à liderança do futebol português, no célebre Organismo Autónomo, e a Liga que veio depois ficou instalada no Porto! Foram muitos anos a “comunicar” a sua fúria, mas valeram a pena. Se Pinto da Costa tinha ou não razão em cada caso, já ninguém se lembra, mas a partir dos anos 90 os árbitros passaram a tratar o FC Porto com deferência e respeitinho.
Vem isto a propósito da ofensiva do Benfica dos últimos dias. As entrevistas de Carraça, Jesus e João Gabriel, a dizerem a verdade – que o Benfica (e o Sporting) foram altamente prejudicados pelos árbitros e que o FC Porto foi beneficiado – só pecam por tardias. Tardias e táticas, pois parecem apenas uma forma de pacificar os benfiquistas, levando-os a aceitar a continuação de Jesus. Contudo, o problema de fundo não é esse. O “sistema” não pode ser atacado só quando já se perdeu. O “sistema” tem de ser atacado todos os dias, com muita agressividade e de todas as formas possíveis. A Liga, a Federação e os árbitros levam o FC Porto ao colo, e enquanto o senhor não utilizar uma estratégia eficaz, e o Benfica se ficar pelas “entrevistinhas” aos jornais, nada muda. É pena que ao fim de tantos anos ainda não tenha percebido o básico."
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