"A Inglaterra é a mátria do futebol trazido à luz em 1863. 149 anos volvidos, continua a ser a pátria do futebol. Não porque vença mais, ou porque de lá sejam os melhores jogadores. Mas pela magia do seu football association, que perdura acima da intelectualidade das tácticas e do tacticismo das inteligências.
Os estádios aconchegados, quase intimistas, estão sempre cheios, seja qual for a competição, a meteorologia, a classificação, a notoriedade das equipas, os horários, a transmissão televisiva.
O ambiente é de festa. Apoiam-se as equipas com entusiasmo contagiante, canta-se em sinfonia e harmonia, vencendo ou perdendo. Quanto o Benfica ganhou em Anfield Road por 2-0, os adeptos do Liverpool continuaram a cantar vibrantemente You'll never walk alone.
Um futebol sem manhas e sem manobrismos. Sem chicotadas psicológicas inconsequentes. Em que o árbitro é tão-só o juiz que também erra, mas não é alvo das desculpas para o insucesso.
O fair play é lá mais escrutinado. Na memória, preservo a radicalidade de alguns exemplos. Relembro apenas um: há anos, um jogador do Arsenal, depois de um colega ter sido assistido por lesão, devolveu a bola à equipa do Sheffield. Porém, a arsenalista Kanu ficou com a bola e passou-a Overmars, que fez facilmente o 2-1. No fim, a Direcção do Arsenal e o técnico Arsène Wenger pediram para o jogo que o Arsenal venceu ser repetido.
Só o futebol da Liga inglesa nos brinda com jogos como 8-2 do Manchester contra o Arsenal, ou, como no domingo, em que o United, em casa, perdeu 1-6 com o City! Não esquecendo os golos que se marcam nos últimos minutos porque, nunca se desistindo, o último segundo de jogo é igual ao primeiro!
Assim é um prodígio de desporto!"
Bagão Félix, in A Bola
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