Últimas indefectivações

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Oitocentos mil milhões e uma mãe por encontrar

"Para alegria incontida daqueles que, como sapos, se lambuzam na lama em que vivem, tudo continua execravelmente na mesma. Ligeiramente atrapalhados por uma resistência alheia á qual não estão habituados, os empregados de D. Palhaço lá montaram diligentemente o circo no qual um homenzinho de cócoras, mais uma vez, se prestou sabujamente a ser protagonista perante a alegria bacoca da meia-dúzia de papalvos que perdeu tempo a assistir ao vivo à facécia do costume, e o encolher de ombros de desprezo da restante turba que já esgotou a paciência para estas estúpidas pantominas que só servem para somar troféus de fancaria. Nada a fazer. Quem nasce de cócoras jamais conseguirá viver de espinha direita. Resta-lhe servir diligentemente quem manda e ir comendo, aqui e ali, alguns restos de santola ou de sapateira que caiam como migalhas da mesa do rei lá na marisqueira de Matosinhos.

Mas, subitamente, ainda há surpresas. O incrível Shrek, um empurrador de bolas caricato que de um dia para o outro passou a valer oitocentos mil milhões de euros (ou oito mil milhões de euros, ou oitenta mil milhões de euros, ou oitenta euros, ou oito euros ou lá que é...) descobriu o pai. Já nada era tão emocionante, tão terno, tão digno do embaciar dos olhos e de uma furtiva lágrima desde que Edmundo de Amicis resolveu separar o pobre Marco da mãezinha, despachando-o para um calcorrear de quilómetros pela América do Sul. Radiante, exalando alegria por todos os poros, o incrível Shrek anunciou um pai! E que pai! Um pai à altura do incrível Shrek se é que entendem o que eu quero dizer. E agora que o incrível Shrek tem um pai, há que lhe arranjar uma mãe. Por mim não estou preocupado. Pelo que todos conhecemos do pai do incrível Shrek, ele tem tanta facilidade em pôr um patego de cócoras como em arranjar uma mãe para o rapaz. Até por que as há por aí bastante baratas e dispostas a todos os tipos de serviços. Até a casar com ele."


Afonso de Melo, in O Benfica

1 comentário:

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