"Zhang Shangwu foi um ginasta da equipa nacional chinesa, vencedor de medalhas de ouro na Universíada de 2001 e grande esperança para os Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas. Todavia, enquanto treinava para esta participação, teve uma grave lesão no tendão de aquiles que o afastou da equipa e determinou o fim da sua carreira de atleta de alta competição. A indemnização de cerca de 4000 euros, não compensou a falta de formação escolar devida ao facto de ter colmaçado a treinar-se intensamente aos cinco anos de idade. O caminho para o desemprego e miséria, que o levou a empenhar as suas duas medalhas de ouro por cerca de 10 euros, foi rápido. O roubo foi, porventura, a solução de desespero e os 4 anos de prisão a consequência. Uma vez em liberdade, sem ter outro ofício, restou-lhe, aos 28 anos, mendigar nas ruas fazendo acrobacias para sobreviver e ajudar o avô. Foi reconhecido e iniciou-se um processo de reabilitação. Está a viver num hotel pago por um compatriota milionário e recebeu ofertas de emprego. Tornando-se lamentável figura mediática, denunciou outras situações de ex-atletas caídos no abandono e miséria. Logo a notícia correu nas agências internacionais fazendo notar o modo como são tratados os desportistas na China. Santa hipocrisia! Como se isto fosse exclusivo daquele país... O mesmo sucede nas democracias ocidentais tão cientes dos direitos humanos. Nesta coluna já chamámos a atenção para situações muito tristes vividas por antigos ídolos do desporto português. É verdade que o respeito pela condição humana evoluiu no Ocidente de forma significativa e haverá mais cuidado com a dignidade dos cidadãos. Mas isso só nos carrega de maior responsabilidade, sendo perigoso projectarmos estes casos como se fossem característicos de outras culturas. Quando as coisas materiais se sobrepõem ao ser humano, é este que sai desprezado. E, como podemos constatar na crise actual, cada um de nós é uma vítima em potência. Mesmo os que se julgavam a salvo... No desporto, como na economia, a degradação decorre de esquecermos o Homem como finalidade da produção social."
Sidónio Serpa, in A Bola
onde se lê "cidadões",leia-se "cidadãos"
ResponderEliminarRectificado...
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