"O fedelho aprendeu depressa o vício dos viciados. Não tem culpa de ter um nome ridículo, com hífen e tudo, e uma pose bacoca de quem ainda não percebeu que se transformou num títere grotesco na mão do chefe dos titereiros. O nome, lá lho terá dado a mãe, ou a criada velha que o trouxe ao colo.
O miúdo não tem culpa daquele cabelo crespo, avermelhado, mais próprio de um setter irlandês do que de um rafeiro submisso e desprezível.
O pobre diabo não pode ser culpado de tudo: nasceu à sombra de um palhaço enlouquecido que acabará um dia de chapéu tricórnio na cabeça, modelado com a página dos classificados do Correio da Manhã, e com a mão encafuada no peitilho da casaca, convencido de que é Napoleão sem Santa Helena. O palhaço louco ensinou-lhe as verdades da vida. E o garoto, pobre infeliz, vomita os seus ensinamentos como se fossem palavras de uma bíblia da podridão.
Ah! Infeliz cretino! Não houve ninguém que lhe explicasse na adolescência que vila não se escreve com dois "L's" mesmo que no plural?
Ah! Pobre boçal! De que te gabas tu? Que loas soltas em prol da tua inexistência? Nunca houve quem te explicasse que a corrupção se entranha na alma como um cancro e que jamais te livrarás dela nem que uma onda radioactiva tome conta deste País sem dono?
Ah! Pobre biltre! Que dizes tu de tua cabeça oca que não seja o eco do que te ordenam dizer? Que haverá dentro desse cérebro caliginoso, fechado e impenetrável? Saberás o desprezo que provocas? Néscio, ignoras que vives de favores alheios, de subserviências há tanto tempo estabelecidas, transformando agora no triste ajudante do palhaço que já não consegue fazer rir quem quer que seja.
Ah! Como já fede, o fedelho! Abre a boca e vem até nós a exalação de uma latrina que se destapa.
Pobre infeliz! Dentro da sua cabeça de cenoura, existe um nabo. Podre."
Afonso de Melo, in O Benfica
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