Últimas indefectivações

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Na derrota (II)

"«Aceitar o fracasso como um homem e o sucesso como um senhor» deixou, há muito, de ser a regra ética da bola.

Ser adepto apaixonado de um clube deve ser-se nas vitórias como nas derrotas. Não basta o aroma feliz de ganhar, é preciso ser-se sólido perante o insucesso.

O meu benfiquismo não pode aumentar mais. Nem com a idade nem com os êxitos. Mas também não diminui, em nada, com a derrota. Não procuro encontrar culpados, que é o costume, quando é preciso anestesiar uma derrota. Sei que não consigo o efeito de distanciamento para uma total isenção. Mas procuro, nos interstícios de racionalidade das emoções, a serenidade que me ajude a ver que a tristeza de hoje se seguiu ao júbilo de ontem e antecede a esperança luminosa da vitória, amanhã. Como alguém escreveu, com a decantação do tempo, nada, a não ser uma derrota, é tão melancólica como uma vitória.

O futebol é ganhar e perder. Sucesso e fracasso. Alegria e tristeza. Afinal, é esta ambivalência que, fazendo-nos sofrer perante o desaire, nos proporciona, por outro lado, um paraíso de entusiasmo e alegria na vitória. Duas faces, sem as quais a festa do futebol não faria sentido.

Como na política, quando cheira a vitórias, juntam-se históricos, noviços e metediços. Nas derrotas, muitos desaparecem e ficam, apenas, os resistentes e os verdadeiros.

Por isso, nesta coluna e nesta hora, fica aqui o registo do meu benfiquismo incondicional, indefectível e solidário.

Um benfiquismo, todavia, jamais compatível com comportamentos amorais. Um benfiquismo que não pactua com o agravamento da escalada Richter futebolística, que caminha para atingir níveis irreparáveis e sem retorno."


Bagão Félix, in A Bola

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