"No final de um jogo da Copa América de 2019, o correspondente de A BOLA no Brasil assistiu a uma conversa surreal na zona mista — lugar onde os jornalistas têm acesso aos jogadores.
Um jornalista inglês parou Richarlison para conversar. E perguntou-lhe o que achava das exibições do Everton.
O atacante, goleador dos toffees à época, fez uma expressão de desagrado, afinal os atletas não gostam de falar dos clubes enquanto estão ao serviço das seleções, e os jornalistas sabem-no, mas, simpático, lá foi divagando, no inglês possível para quem havia chegado a Inglaterra dois anos antes para reforçar o Watford.
«Acho que podemos melhorar a classificação da época passada, saíram jogadores mas certamente vão entrar outros», disse Richarlison, entre outras frases de circunstância. O jornalista inglês, porém, parecia perplexo com as respostas.
Com a argúcia de um Sherlock Holmes, o correspondente de A BOLA demorou, mas percebeu o que estava a passar: Richarlison respondia sobre o clube Everton, mas o repórter britânico perguntara sobre o jogador Everton, a quem o atacante e o resto do Brasil se referia como Cebolinha, cujas exibições inspiradas naquela Copa América estavam a chamar a atenção de meia Premier League.
«Ah», disse Richarlison, «esse é craque, não engana». Na verdade, apesar do inegável talento, até enganou um bocadinho, dirão os benfiquistas.
Mas, vem isto a propósito do pedido de Cebolinha para que o chamassem por Everton. Cebolinha, perdão Everton, está no seu direito de não gostar da alcunha mas, assim, em vez de ter um nome exclusivo passa a ter um partilhado com dezenas de outros jogadores brasileiros (e com um clube de Liverpool).
Não é o único. O Vasco, em vez de jogar com um Cocão, um nome de guerra que se destaca, passou a contar com um Matheus Carvalho, o nome burocrático pelo qual o médio prefere ser chamado. No Corinthians, Mosquito era um jogador querido da torcida até ao ano passado; pediu para ser chamado por Gustavo Silva, o seu, com todo o respeito, insípido nome de batismo, e acabou esquecido no Vitória, da Bahia.
Pode parecer tema insignificante, mas os diminutivos e alcunhas acrescentam, em si mesmos, samba no pé. Afinal, será que o Brasil seria campeão, em 1958, com um Waldyr Pereira, em vez de Didi, um Zé Miranda, em vez de Zito, um Edvaldo, em vez de Vavá, um Edson, em vez de Pelé, ou um Manuel Santos, em vez de Garrincha? E, em 1970, com Jair Filho e Eduardo Andrade no ataque, em vez da dupla Jairzinho e Tostão? E, em 1994, com Marcos Moraes (Cafu), Carlos Caetano (Dunga) ou Zé Oliveira (Bebeto), ou em 2002, com Ricardo Leite (Kaká)?
Por falar nisso, Richarlison não está mal no Tottenham mas se optasse pela alcunha, Pombo, talvez marcasse mais golos..."

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